Em edição histórica, Maju faz estreia impecável no 'JN'

Uma mulher negra ocupa pela primeira vez a bancada do principal telejornal da televisão brasileira

17 fev 2019 - 12h12
Maju Coutinho está na Globo desde 2007 e se tornou uma das jornalistas mais populares do canal
Maju Coutinho está na Globo desde 2007 e se tornou uma das jornalistas mais populares do canal
Foto: Reprodução

O Jornal Nacional foi lançado em 1969. Completará meio século no mês de setembro.

As mulheres passaram a ter presença fixa na bancada apenas a partir de 1992. E somente agora uma mulher negra chega ao lugar mais cobiçado do telejornalismo brasileiro.

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Na noite de sábado, dia 16, Maria Júlia Coutinho, 40 anos, estreou no rodízio de apresentadores que cobrem férias e folgas dos titulares William Bonner e Renata Vasconcellos.

Ao lado dela, outro âncora eventual do JN, Rodrigo Bocardi, que comanda o Bom Dia São Paulo.

Maju teve um desempenho irretocável. Estava segura e concentrada. Soube disfarçar o inevitável nervosismo. Não cometeu nenhum erro.

Foi elogiada pelo colega Tiago Scheuer, que apresentou o boletim meteorológico da edição.

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Após o fim do telejornal, enquanto os créditos subiam na tela, Bocardi e Maria Júlia caminharam para a redação, onde ela foi aplaudida por uma jornalista e abraçada por outra. Maju levantou o braço ao ar: o clássico sinal de vitória.

Muita gente, especialmente nas redes sociais, não compreende o imensurável simbolismo da presença de uma mulher negra na bancada do JN.

Acham que é exagero celebrar tal feito. Há até quem enxergue intenção política da Globo ao promover Maju.

Sim, é um ato político. Mas não no sentido partidário-ideológico. E sim como uma atitude contra o racismo enraizado na sociedade brasileira; essa discriminação resistente que envergonha o País mais miscigenado do planeta.

Foto postada por Rodrigo Bocardi no Instagram, com mais de 150 mil curtidas: "feliz em estar contigo nesse degrau"
Foto: Reprodução

Os pardos e negros compõem 55% da população e quase 52% dos brasileiros são mulheres.

O perfil ‘mulher negra’ sempre teve representatividade mínima no telejornalismo – menor ainda nos postos mais altos, como a apresentação de telejornal de exibição nacional.

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As que chegaram lá são ainda exceções, infelizmente. Por isso a relevância de destacar quando mais uma realiza essa conquista.

A ascensão de Maria Júlia coroa o desbravamento realizado por jornalistas como Gloria Maria (na Globo desde 1971), Dulcinéia Novaes (do Globo Repórter), Zileide Silva (repórter em Brasília e apresentadora eventual do Jornal Hoje) e Joyce Ribeiro (âncora do Jornal da Cultura).

Essas precursoras enfrentaram não apenas o racismo, mas também o machismo ao batalhar por espaço na TV.

A chegada de Maju ao JN deve-se à competência da jornalista, que iniciou a carreira na TV Cultura de São Paulo, onde chegou a estar na bancada ao lado do veterano Heródoto Barbeiro, hoje na Record News.

Além de transmitir credibilidade, Maria Júlia possui característica valiosa a quem trabalha diante das câmeras: carisma. Qualidade esta que é nata; não se aprende na faculdade de jornalismo.

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O avanço da diversidade racial no telejornalismo vai gerar mais manchetes quando (possivelmente em breve) Maju Coutinho dividir a bancada do Jornal Nacional com Heraldo Pereira, o primeiro negro a apresentar o principal telejornal da Globo. Ele participa do rodízio do JN desde 2001.

Ver dois jornalistas negros nessa posição era algo inimaginável até pouco tempo atrás.

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