O celular toca. É do Brasil.
“Viu o incêndio?”, pergunta um amigo.
“Incêndio?”, questiono, imaginando que chamas consomem algum prédio icônico em São Paulo, onde moro.
Então ouço: “A Notre Dame está pegando fogo”.
Passei a segunda-feira no Marais, bairro às margens do rio Sena, na direção da Île de la Cité, onde fica a principal catedral gótica da França e, sem exagero, a igreja mais famosa do planeta.
Não tinha noção de que, a poucos quarteirões de onde eu tomava um café para me aquecer numa tarde fria de primavera, o templo majestoso estava sendo consumido em chamas.
Quando a notícia se espalhou, as pessoas nas ruas (franceses, imigrantes e turistas) passaram a buscar informações no celular – e a maioria delas ficou muda, incrédula com as imagens de destruição. A única trilha sonora era a da sirene das viaturas de bombeiros. Mais tarde, ouviu-se os sinos das igrejas.
Na TV, os canais jornalísticos exibiam imagens ao vivo da tragédia – com câmeras a certa distância, sem utilizar helicópteros ou drones.
Os repórteres, que aqui geralmente não aparecem nas matérias (apenas ouve-se a voz deles narrando os fatos), se posicionaram no vídeo para relatar a notícia extraordinária.
O formato mais comum nas emissoras francesas – várias pessoas a conversar em torno de uma mesa – foi acionado para discutir as causas do fogo e a reconstrução da Notre Dame.
“Os franceses unidos e solidários”, lia-se na tela em uma das atrações.
Três dias antes das chamas, lá estava eu no alto das torres da igreja, após vencer mais de 400 degraus na parte oeste da catedral.
Os andaimes da restauração, agora apontados como provável foco inicial do incêndio, atrapalharam alguns ângulos para fotos da cinematográfica Paris.
Nada que diminuísse a grandiosidade de Notre Dame – e chateasse a quem teve o privilégio de estar entre os últimos que visitaram o interior e o cume da catedral antes que a mesma fosse tomada por labaredas impiedosas.
Estar no centro da notícia quando esta acontece é o que mais deseja um jornalista.
Agora posso contar que vivi uma experiência do gênero em Paris, a cidade que conheci quando era jovem, quase 25 anos atrás, e pela qual sempre mantive fascínio.
Mas não há o que comemorar por me ver no cenário de um fato jornalístico relevante. Apenas guardarei as memórias de um dia histórico – e triste.