Em qual Brasil você vive? O do Instagram, onde muitos artistas e subcelebridades se promovem a partir de fotos milimetricamente posadas que exibem felicidade exagerada e sensualidade vulgar, ou o da realidade alarmante, no qual um vírus mata no País mais de mil pessoas por dia — algumas delas por falta de um simples cilindro de oxigênio?
Você está no Brasil da máscara e do álcool em gel, do distanciamento social e da torcida pela vacinação, ou na terra das festas clandestinas, do desprezo pelo risco de se infectar e contaminar a outros, do negacionismo a respeito da eficácia e imprescindibilidade da imunização coletiva? Onde você se encontra?
Ok, a vida precisa seguir. Faz-se necessário abstrair, enxergar e usufruir o lado bom da existência em plena pandemia. A saúde mental exige olhar positivo acima do caos. No entanto, quem acompanha as notícias do universo artístico pode se intoxicar com a alienação desavergonhada e o excesso de futilidade. Sucumbir à frivolidade é uma tentação.
Enquanto desconhecidos morrem asfixiados em hospitais lotados de Manaus, ‘personalidades de mídia’ postam o look patrocinado do dia, o prato do restaurante badalado, selfie (com filtro de beleza artificial) no destino turístico exclusivo de ricos e famosos. Risos forçados, legendas vazias.
Nenhuma mensagem de solidariedade. Zero iniciativa de mobilização dos milhões de seguidores para oferecer alguma ajuda. Inexistente exercício básico de empatia. Falar de pandemia pra quê? Vai começar um novo ‘Big Brother’. Vamos fingir que não há uma guerra mortal lá fora, no Brasil feio e triste, sem Photoshop e desinteressante para ‘likes’.
Esse Brasil onde ninguém mereceria estar, mas onde nos encontramos e precisamos sobreviver. Cada um, e todos.