A companheira perfeita. Foi essa a imagem de Rose Miriam di Matteo vendida à imprensa durante 25 anos desde que ela apareceu na revista Caras em 1994. 'Gugu mostra pela primeira vez sua namorada' era o título na capa. 'Rose é médica, tem 30 anos e já teve um romance com ele há dez anos', informava a publicação.
De volta a 2020, uma pergunta incômoda tilinta no ar: ao longo de tantos anos, assistimos a um romance de novela ou caímos na armadilha de uma encenação? A dúvida alimenta não apenas a curiosidade popular como também a disputa judicial pela herança do apresentador. Rose insiste na versão de que foi esposa de Gugu, ainda que nunca tenham oficializado o relacionamento. A família do comunicador afirma que a relação se restringiu aos limites de uma amizade convencional e um acordo para terem filhos juntos.
A falta de consenso em relação ao testamento que ignorou Rose produziu um dos mais lamentáveis episódios já vistos no universo das celebridades. O que era paz virou guerra. O que era discrição virou maledicência. O que deveria ser o respeito absoluto à memória de Gugu, morto aos 60 anos em novembro do ano passado, virou evasão de privacidade, com ambos os lados superexpostos e sob prejulgamento público.
Sem fazer juízo de valor e independentemente do veredito jurídico, há de se ponderar a respeito do papel de Rose nessa trama dramática. Esposa ou amiga, ela foi mais do que mera barriga solidária. Vários famosos recorreram a esse método controverso (abordado na novela Amor de Mãe, da Globo) para realizar o sonho da paternidade. Entre eles, o humorista Paulo Gustavo, o cantor Ricky Martin e o jogador de futebol Cristiano Ronaldo. Nenhum deles exibiu a mulher responsável por gerar as crianças. Aparentemente, não houve vínculo emocional: elas serviram como reprodutoras e só.
No caso de Gugu e Rose existiu um laço afetivo apresentado na imprensa com o estereótipo da 'família perfeita'. Não somente em inúmeras capas de revistas, como também nas redes sociais do apresentador. Aos olhos de quem os acompanhou pelo viés midiático, a médica não tinha uma vida dissociada à de Gugu. Pareciam unidos, amorosos, felizes. Pela maternidade, Rose abriu mão da carreira na Medicina e, de certa maneira, viveu à sombra do comunicador.
Da parte dela, foi exclusivamente uma paixão platônica ou existiu um pacto sem envolvimento íntimo? Teria sido, para usar um termo contemporâneo, uma amizade com benefícios? Quem acompanha essa discussão pela imprensa não sabe mais no que acreditar. A realidade até então sustentada por Gugu e Rose acabou desconstruída em meio ao embate pela fortuna. Virou controvérsia entre advogados, uma guerra fria de comunicados.
Em programas de TV, Rose di Matteo é alvo tanto de solidariedade quanto de reprovação por parte de apresentadores e comentaristas. O mesmo maniqueísmo ocorre nas redes sociais. A postura da família de Gugu também divide opiniões. E, no meio dessa polêmica, está a imagem de Gugu Liberato. A mais profunda intimidade dele passou a ser revelada e desmentida, comentada e banalizada.
A conclusão é óbvia: no final desse processo emocional e litigioso não haverá vencedores. Dinheiro à parte, todos sairão abatidos e marcados na alma para sempre. Provavelmente a relação de Rose com os três filhos que teve com Gugu jamais será a mesma. Essa triste história da vida real suscita a lembrança das primeiras palavras do clássico romance Ana Karenina, do russo Liev Tolstói: “Famílias felizes são todas iguais; toda família infeliz é infeliz à sua maneira”.