Para surpresa de quem a via apenas como um 'rostinho bonito' na televisão ou uma irritante guardiã do rigor da lei e também dos direitos humanos, Gabriela Prioli mostrou ser uma mulher consciente de seu valor, uma comentarista comprometida com a ética jornalística e uma pessoa livre da escravidão imposta pela fama.
Como todos já sabem, por ela se sentir desconfortável com o nível dos debates do programa CNN Novo Dia, na CNN Brasil, e as frequentes interrupções de sua fala, a mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Mackenzie decidiu se demitir.
Aparentemente não pesou em seu juízo a perda de visibilidade na TV e as inevitáveis críticas por tal atitude polêmica. Em trecho de seu desabafo no Twitter, Prioli se explicou a seus mais de 400 mil seguidores: "É impossível não me comportar segundo aquilo que eu defendo, apesar das possíveis consequências".
Em plena pandemia de covid-19 e na porta de uma recessão econômica no País, a comentarista abriu mão de um posto privilegiado na TV e de um salário substancial para ser fiel a si mesma. Quem faria o mesmo? Poucos de nós, bem poucos.
A televisão não é um lugar confortável a quem tem fortes convicções. Vira-se uma vidraça — e a agressividade das pedras pode ser insuportável. Por isso tantos comentaristas se refugiam em cima do muro, em uma falsa neutralidade. Ou então só batem em quem já está derrotado aos olhos da maioria dos telespectadores.
Tanto na TV aberta como nos canais pagos vários comentaristas de política e economia parecem ter medo. Medo de desagradar aos poderosos, medo de dar a cara a tapa ao opinar, medo de enfrentar a polarização ideológica, medo de serem punidos pela emissora para a qual trabalham. O medo emperra a prática do jornalismo.
Não é o caso de Gabriela Prioli. Ela prova ter o destemor desejável a quem se coloca diante das câmeras com a missão de informar e analisar a verdade dos fatos, desagrade a quem desagradar. E, de quebra, denuncia e combate o machismo estrutural que coloca a voz de um homem, seja ele quem for, como palavra final em um debate. Em apenas duas semanas no ar, Gabriela Prioli teve mais relevância do que muita gente com anos e anos de verborragia na TV.