O risco saiu do campo digital e se tornou real. O homem que invadiu a sede do jornalismo da Globo, no Rio, com a intenção de falar com Renata Vasconcellos e que usou uma faca para fazer a repórter Marina Araújo refém, acendeu a luz vermelha na emissora. O principal canal da família Marinho precisa rever o esquema de segurança de seus prédios e funcionários. Especialmente daqueles com maior visibilidade. Renata e o colega de bancada no 'Jornal Nacional', William Bonner, são alvos preferenciais.
Em nota oficial, a Globo definiu o atentado como "obra de alguém com distúrbios mentais, sem nenhuma conotação política". Ainda que o rapaz - desarmado e preso após negociação com a PM e a intervenção corajosa da própria Renata Vasconcellos - sofra de algum transtorno, o episódio não é menos grave do que o terrorismo com propósito político-ideológico. Ressalta que o perigo à vida pode surgir de qualquer um, a qualquer momento.
O fato gerou manifestação empática até do mais obstinado crítico da Globo e do jornalismo do canal. "Repudio completamente qualquer ato de violência contra profissionais da imprensa, o que vai na contramão de nossa defesa histórica e irrestrita da liberdade de expressão e de informação, seja a favor ou contra qualquer governo", tuitou o presidente Jair Bolsonaro. "Presto solidariedade às jornalistas Marina Araújo e Renata Vasconcellos, que foram alvos desse atentado covarde e inaceitável."
- Repudio completamente qualquer ato de violência contra profissionais da imprensa, o que vai na contramão de nossa defesa histórica e irrestrita da liberdade de expressão e de informação, seja a favor ou contra qualquer governo.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 10, 2020
- Presto solidariedade às jornalistas Marina Araújo e Renata Vasconcellos, que foram alvos desse atentado covarde e inaceitável.
- Que o caso seja apurado brevemente e o autor punido com o rigor da lei!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 10, 2020
No final da edição de ontem do 'JN', ao relatar o caso (sem a exibição das imagens do circuito interno que vazaram à imprensa), Bonner expressou um desejo que também soou como pedido pessoal: "Paz, gente". "Paz", completou Renata, que viveu o mais tenso aniversário em seus 48 anos.
Calmaria é tudo o que os dois âncoras não têm tido nos últimos tempos.
Ambos enfrentam a fúria de haters. Na sua maioria, apoiadores de Bolsonaro indignados com a cobertura das ações do governo feita pelo 'JN'. A situação de Bonner é mais dramática: vítima de hostilidade em público, fraude usando o nome do filho, acesso e divulgação de dados sigilosos, ofensas e ameaças online.
Afastado das redes sociais por querer "uma vida de verdade", o jornalista perdeu a liberdade de ir e vir. Até deixou de usar a ponte-aérea Rio-São Paulo a fim de evitar possíveis provocações. Antes, era flagrado pelos paparazzi nos passeios ao shopping e em restaurantes. Depois do recrudescimento da animosidade, passou a sair cada vez menos de casa.
Homem mais poderoso do telejornalismo, William Bonner é refém do próprio status e padece por ser a vidraça mais evidente a quem odeia a Globo. Batem nele e em Renata com a intenção de atingir a família Marinho, a cúpula da emissora e o jornalismo profissional. É assim hoje com a direita, foi da mesma maneira durante as Presidências de esquerda. O maior canal de TV do País e seus principais âncoras são vistos e tratados como inimigos. O que menos se tem nessa guerra de doutrinas e nervos é a sonhada paz.