'Anitta assume namoro'. 'Anitta termina relacionamento'. 'Maiara chora após se separar de Fernando'. 'Mayra Cardi fala sobre traições de Arthur Aguiar'.
Essas manchetes são reais. Amostra mínima da superexposição voluntária — também conhecida como evasão de privacidade — produzida por inúmeros famosos. Algumas celebridades fazem questão de compartilhar a intimidade amorosa com as redes sociais. Não apenas os melhores momentos, mas também as situações que antigamente eram mantidas entre quatro paredes, distantes da curiosidade e do julgamento do público.
Essa profusão de relatos íntimos, teoricamente confidenciais, gera autopromoção ambígua. O famoso em questão ganha publicidade espontânea na imprensa e na web, porém, ao mesmo tempo, alimenta a depreciativa corrente de fofocas a respeito de si mesmo. A carreira passa a ficar em segundo plano. Pouco se fala a respeito do que produzem.
Estimulada, a plateia virtual demonstra mais interesse por rumores e escândalos. Gosta de assistir à desgraça e à infelicidade de quem ostenta sucesso e influência. Não sem tomar parte, obviamente. Parcela relevante dessa mesma audiência desqualifica o artista ao acusá-lo de ser indiscreto, chamativo, egocêntrico. E, não raro, o famoso que se expõe excessivamente em um momento é aquele que, a seguir, reclama da falta de privacidade e do preço pela fama. "A celebridade é uma contradição", escreveu o incontestável poeta português Fernando Pessoa.
Esse fenômeno de exibição da vida particular tem sido estudado por sociólogos, filósofos e psicólogos. Na outra ponta, como beneficiária, está a mídia, especialmente os veículos que oferecem espaço aos artistas e às subcelebridades. Cada manchete a respeito de novo namoro, suposto adultério, briga de casal, rompimento conjugal e afins vira uma isca para atrair cliques, gerar audiência e impulsionar anúncios. Nós, da imprensa, damos discutível estímulo a esse comportamento indiscreto e à temerária indústria da superexposição.
Os incontáveis affairs de Anitta, a interminável novela da separação de Mayra Cardi e Arthur Aguiar e as lamentações online de Maiara viram entretenimento para o escapismo. Muitas pessoas consomem a vida dos artistas — no seu melhor e também no que há de pior — para fugir da própria realidade. E assim acontece a realimentação entre quem se vulnerabiliza voluntariamente e o devorador da superexposição alheia.