Uma das maiores qualidades de Fernanda Young era o destemor em relação aos telespectadores. Seja como roteirista, atriz ou apresentadora, ela sempre enfrentou de peito aberto – e até desnudo – o público acomodado ou conservador.
Levou para a TV discussões divertidas a respeito de sexo, sexualidade, gênero, preconceitos, barreiras sociais e sanidade mental.
O humor excessivamente ácido e crítico exigia, às vezes, uma bagagem cultural que muitas pessoas não têm. Daí a incompreensão e a estranheza associadas a determinadas obras assinadas por ela – e à verborragia, ao comportamento, ao visual. Era docemente intimidadora.
Young foi uma artista porra-louca, capaz de transitar com destreza ímpar por diferentes segmentos. Escrevia comédia, drama e poesia, atuava, apresentava, lecionava a jovens artistas, filosofava nas entrevistas e nos posts em redes sociais.
A dislexia, a depressão e a impulsividade de polemista não eram travas, e sim empuxos. Complementavam sua cabeça tão genial quanto caótica. “Devemos parar de negar que ficar fora de si é muito bom e lembrar que ficar lúcido pode ser melhor”, disse certa vez.
“Se eu tivesse me comportado, teria lucrado um pouco mais com o entretenimento. Comprometi algumas possibilidades profissionais por ter essas personas todas”, confessou Fernanda em entrevista a Marília Gabriela.
Antes de tudo, considerava-se uma escritora. Foi essa a definição colocada em sua página no Instagram. Mais de uma vez avisou a seus fãs e desafetos: “Serei tudo que eu puder ser”. E o foi com criatividade ímpar.
Veja também: