Nos últimos dias, o influenciador Carlinhos Maia tem sido massacrado nas redes sociais e alvo de críticas contundentes na imprensa por ter promovido uma festa em Penedo, Alagoas. A aglomeração resultou em vários contaminados pelo novo coronavírus. Afeito a polêmicas, ele vê sua imagem pública liquidificar enquanto as UTIs estão lotadas de pacientes com covid-19 em todo o País. O mesmo impacto destrutivo de prestígio atinge Neymar por circunstância semelhante — mas, no caso do jogador, a consequência poderá ser mais devastadora.
A mídia internacional ecoa as notícias do Brasil a respeito da festa de Réveillon bancada pelo atacante do Paris Saint-Germain. De acordo com colunistas, o evento em uma mansão de Mangaratiba, no litoral do Rio de Janeiro, acontecerá ao longo de cinco dias. Fala-se de 150 a 500 convidados. A reunião de tantos ‘parças’ e ‘minas’ em um mesmo espaço em pleno recrudescimento do número de casos diagnosticados e mortes por covid-19 causou indignação coletiva e irreversível publicidade negativa.
Após uma fase ruim com danos à sua imagem e reputação, na qual enfrentou acusação de violência sexual e protagonizou a monótona novela sai-não-sai do PSG, Neymar conseguiu se reabilitar com bom desempenho em campo e discrição na vida privada. Ganhou preciosos pontos ao se tornar voz importante contra o racismo no futebol e na sociedade em geral. Em abril, foi incensado ao doar R$ 5 milhões para o combate da pandemia de covid-19. Fecharia 2020 em alta cotação. Mas pisou na bola aos 45 do segundo tempo.
Oferecer uma festa de Réveillon às vésperas de o País completar 200 mil mortos pelo novo coronavírus é uma atitude tão kamikase em termos de marketing e autopromoção que remete ao Neymar de antigamente, aquele garoto imaturo e imprudente. Promover essa rave particular enquanto as autoridades imploram para o cidadão comum seguir os protocolos sanitários e evitar agrupamentos beira o nonsense. Parece atitude de alguém que vive em uma bolha ou universo paralelo, onde há permissão para tudo e a diversão individual se sobrepõem ao bem-estar coletivo.
O estrago na notoriedade do jogador já se estabeleceu. Pode piorar caso a festa produza efeitos colaterais previsíveis, como convidados diagnosticados com covid-19 logo em seguida, a exemplo do que ocorreu no oba-oba de Carlinhos Maia. Comenta-se sobre a proibição de celulares na mansão de Mangaratiba. Trata-se de precaução com efetividade apenas momentânea. Ninguém segura as informações. Sempre haverá vazamento para jornalistas e nas redes sociais. Enquanto anfitrião dessa “festa apocalíptica” (nas palavras do jornal italiano ‘Corriere della Sera’), Neymar deve começar 2021 com outra crise de imagem para administrar.