Ficou evidente que Bonner teve uma das piores semanas no JN

Âncora não disfarça o abatimento com notícias sobre Bolsonaro e a explosão da covid no Brasil

8 mar 2021 - 09h26

Em 25 anos como titular na bancada do Jornal Nacional, poucas vezes se viu William Bonner tão abatido como nas edições de sexta-feira (5) e sábado (6). O semblante do apresentador transmitia desânimo e indignação, compaixão e revolta.

Visivelmente abalado, Bonner representa na TV a angústia que todo jornalista que cobre a pandemia tem sentido
Visivelmente abalado, Bonner representa na TV a angústia que todo jornalista que cobre a pandemia tem sentido
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

Tais sentimentos foram produzidos por matérias a respeito de ações equivocadas e omissões do governo de Jair Bolsonaro no combate à pandemia de covid-19 no País e também do caos no sistema de saúde.

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Nos dois dias, o JN mostrou profissionais da área em lágrimas devido à pressão de escolher quem receberia uma vaga de UTI, em detrimento de outro paciente que poderia morrer pela falta de cuidados intensivos. Cenas comoventes de uma tragédia anunciada — e cujo fim não se enxerga.

Várias vezes, após a exibição de matérias sobre os erros da gestão na saúde e de declarações polêmicas de Bolsonaro, e também do desespero de doentes e seus parentes nos hospitais, Bonner baixou a cabeça, com expressão pesada, ou olhou para a colega Renata Vasconcellos como quem busca apoio emocional para seguir em frente.

Não tem sido fácil para nenhum jornalista cobrir diariamente a catástrofe humanitária imposta pelo coronavírus. As notícias ruins se sobrepõem, cada vez mais dramáticas. Impossível não ter empatia por infectados, vítimas fatais, familiares e profissionais da linha de frente. Não há como noticiar com frieza, sem lamentar e se solidarizar.

Há quase um ano, em 25 de março de 2020, após uma edição com 1 hora e 28 minutos de duração (uma das mais longas nos 52 anos do ‘JN’), Bonner se dirigiu a Renata. “Tá cansada?”, perguntou. “Estou”, respondeu a âncora. De lá para cá, o cenário piorou muito.

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O cansaço atinge também o telespectador, um tanto anestesiado após meses e meses de manchetes sobre mortes, incompetência de gestores públicos, abre e fecha nas cidades, previsões assustadoras dos especialistas em saúde. O desalento de Bonner representa a exaustão de todos nós.

Maior alvo televisivo do extremismo ideológico e da radicalização política, William Bonner se mostra indignado com negacionistas, espalhadores de fake news e gente insensível com a dor alheia. Em maio do ano passado, desabafou durante entrevista a Pedro Bial.

“O que dizer de uma pessoa que inventa um boato dando conta de que uma certa vacina mata ou produz um efeito ruim? Ou, o contrário, alguém que inventa uma informação de que um determinado medicamento está salvando as pessoas? O que é isso senão a maldade?”

Apesar da aparência de esgotamento e desesperança, Bonner sinaliza que não vai desistir. A Globo negou recente boato de que o âncora teria pedido para deixar o Jornal Nacional até o fim do ano. Cabe aqui outra frase dele, pinçada da edição especial do Jornal Nacional, no ar em 20 de junho, sobre os primeiros 50 mil brasileiros mortos por covid.

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“A História vai registrar aqueles que se omitiram, os que foram negligentes, os que foram desrespeitosos. A História atribui glória e atribui desonra. E História fica para sempre.” A certeza de que a justiça histórica nunca falha parece ser um fio de consolação para Bonner e milhões de telespectadores.

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