O capítulo de terça-feira (dia 23) de O Sétimo Guardião teve uma das melhores sequências vistas até aqui.
Sentadas lado a lado diante do altar da igreja, Mirtes e Stela travaram diálogo lancinante e revelador.
Sogra e nora se odeiam. Na longa cena, elas tiveram um acerto de contas moral. As atrizes Elizabeth Savalla e Vanessa Giácomo presentearam o telespectador com performances impactantes – sendo que a veterana superou a si mesma em grandiosidade.
Mirtes é uma vilã clássica e, ao mesmo tempo, contemporânea. Reúne o pior do momento na sociedade brasileira: intolerâncias, preconceitos, radicalismos, falta de empatia.
Savalla dribla qualquer pudor ao exalar a toxicidade da personagem. É a própria encarnação do mal, fragilmente disfarçada atrás do falso escudo de representante de Deus na Terra.
A atriz, de 64 anos, defende sua personagem com vigor impressionante. Ela tempera a vilania de Mirtes com doses homeopáticas de humor tétrico e aquele cinismo irresistível que faz boa parte do público se divertir com a víbora.
Defensora de uma moral torta, a carola representa a onda de intransigência que inundou o Brasil nos últimos tempos.
Gay e politicamente incorreto, o autor Aguinaldo Silva a usa para criticar o conservadorismo atávico e o prejulgamento indiscriminado aplicado na vida real e nas redes sociais.
“Quer apontar o dedo pra todo mundo só pra esconder os seus defeitos, que são muitos e terríveis”, disse Stela para a sogra opressora, numa provável alusão a todos que adoram condenar os outros enquanto pecam prazerosamente.
“Você se considera porta-voz de Deus, né? Será que Ele não tá vendo que você é indigna disso?”
Surtada e inflexível, Mirtes jamais admite seus erros. “Você está parecendo o demônio no deserto tentando atentar o Cristo. Mas eu não vou desistir”, retrucou a doidivana, exageradamente vitimizada.
Em outra cena, Mirtes ecoou a revolta de Aguinaldo Silva contra o que ele classifica de preconceito contra os idosos.
O novelista, de 75 anos, afirma sofrer com a discriminação etária praticada inclusive por seguidores de suas redes sociais.
“Muita gente, quando está na terceira idade, sofre bullying, é abandonada, sofre com o descaso da própria família”, denunciou Mirtes ao jornalista da atribulada Serro Azul, cidade fictícia de O Sétimo Guardião.
Com o devido mérito, Elizabeth Savalla virou protagonista de honra do folhetim.
Suas cenas são sempre relevantes a quem gosta de boa dramaturgia e atuação vibrante, além de apreciar uma crítica social criativa.
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