Na tarde de quinta-feira (16), as grandes redes de TV foram avisadas pelo Palácio do Planalto que o presidente Jair Bolsonaro faria um pronunciamento para anunciar a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e apresentar o novo ocupante da pasta, Nelson Teich. O SBT, criticado por seu jornalismo burocrático, interrompeu a programação para exibir o evento. A RecordTV e a Band transmitiram trechos. Canal líder em audiência e com mais horas diárias dedicadas ao jornalismo, a Globo preferiu manter no ar Avenida Brasil, fenômeno de audiência no Vale a Pena Ver de Novo.
Em um intervalo da novela, a âncora do Jornal Nacional Renata Vasconcellos fez um 'flash' para noticiar a primeira aparição pública de Bolsonaro e Teich juntos. Horas depois, no JN, a Globo produziu cobertura detalhada da troca de comando no ministério mais midiático do momento no País. O telejornal também destacou, por 2 minutos, o panelaço ocorrido durante a fala do presidente. Naquele momento houve pico de 32 pontos no Ibope, de acordo com dados prévios. Esse índice representa 6,5 milhões de pessoas sintonizadas no canal somente na Grande São Paulo.
Após a coletiva de imprensa, Nelson Teich concedeu entrevista exclusiva ao vivo para o SBT. O dono da emissora, Silvio Santos, é apoiador de Bolsonaro. O novo ministro conversou também com o Brasil Urgente da Band. O apresentador do programa, José Luiz Datena, foi o mais incisivo crítico de Luiz Henrique Mandetta na TV nos últimos dias.
No Edição das 18h da GloboNews, o âncora César Tralli — no lugar da titular Leilane Neubarth, afastada por ter mais de 60 anos e fazer parte do grupo de potenciais complicações do novo coronavírus — não poupou críticas a Teich. Argumentou que o ministro que chega disse apenas "obviedades" sem mostrar um plano efetivo para controlar o caos que a pandemia de covid-19 poderá causar no sistema de saúde. Alguns comentaristas, como Cristiana Lôbo e Gerson Camarotti, concordaram com a análise.
Desde o início da crise entre Mandetta e Bolsonaro, a Globo e a GloboNews sinalizaram apoio implícito ao então ministro. Ele ganhou espaço privilegiado nos principais canais da família Marinho para propagar sua estratégia de ação e se defender dos ataques verbais do presidente. Foi justamente uma entrevista ao Fantástico no domingo passado (12), na qual se comparou em autoridade com o chefe do Executivo, que precipitou sua demissão. Resta observar se o jornalismo da Globo e da GloboNews terá igual benevolência com Nelson Teich.