Foi-se o tempo no qual a Globo era rotulada de careta. A emissora líder em audiência na televisão brasileira está mais progressista do que nunca, especialmente em relação às temáticas LGBTQ+.
Nos últimos anos, praticamente todas as novelas têm personagens representativos da diversidade sexual.
Essa curva de inclusão se tornou mais visível a partir de janeiro de 2014, quando a novela das 21h Amor à Vida, de Walcyr Carrasco, exibiu o primeiro beijo na boca entre dois homens (Félix/Mateus Solano e Nikko/Thiago Fragoso).
Dos cinco folhetins exibidos atualmente – Por Amor, Malhação – Toda Forma de Amar, Órfãos da Terra, Verão 90 e A Dona do Pedaço – apenas a trama das 18h30 não apresenta um personagem com esse perfil.
Na produção seguinte, na faixa das 7 da noite e ambientada na década de 1990, o jovem Candé (Kayky Britto), até então heterossexual e sedutor de mulheres, vai terminar ao lado da drag queen Sabrina (Miguel Rômulo), por quem desenvolve aos poucos forte sentimento.
A próxima novela do horário, Bom Sucesso, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, com estreia na próxima segunda-feira (29), terá pelo menos quatro personagens do universo LGBTQ+.
Shirley Cruz será a diretora comercial Gláucia, profissional poderosa da editora comandada por Alberto (Antônio Fagundes). Para viver uma mulher autoconfiante que enfrenta de cabeça erguida o racismo e a homofobia, a atriz disse ter se inspirado na vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio.
Nesse mesmo núcleo ligado aos livros, Diego Montez vai interpretar o diretor de marketing William, um gay que se destaca pelo visual fashionista e o humor ácido.
Outro homossexual será o galã de TV Pablo Sanches, papel de Rafael Infante. Ele sustenta relacionamento de fachada com mulher por temer a reação intolerante dos telespectadores conservadores.
A quarta personagem, Michelly, é uma adolescente transexual de 15 anos em conflito com as pessoas que não a enxergam como mulher. Foi escalada a atriz trans Gabrielle Joie, de 21.
Bom Sucesso terá o desafio de enfrentar a ruidosa objeção dos tradicionalistas. Esse público ganhou crescente visibilidade desde a eleição de Jair Bolsonaro.
O presidente assume posição contrária à diversidade sexual e, no momento, ameaça impor critérios ideológicos à seleção de projetos que buscam patrocínio da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
Produções com temas considerados polêmicos – como sexualidade, racismo e desigualdade social – seriam automaticamente descartados.
Em sintonia com a sociedade contemporânea, a nova novela das 19h30 da Globo tem tudo para se tornar alvo dessa onda antiliberal. Ao mesmo tempo, poderá ser uma peça de resistência.