Que Karol Conká sofre de autoengano, todo mundo já sabe. Ela se acha mais importante do que é. Apesar da perversidade nas palavras e atitudes, afirma ser merecedora de perdão. Pediu para não ser vista como “monstro”. “Isso dói”, disse. E a dor causada nos outros?
Pouco depois do suposto arrependimento, a cantora retomou a maledicência e o julgamento dos desafetos no jogo. O mea-culpa logo foi ofuscado pelo pedantismo de sempre. Afinal, ninguém muda da noite para o dia. Nem os conselhos no confessionário parecem ser capazes de salvar a rapper da derrocada dentro e fora do reality show.
Foi no espaço reservado da casa, aliás, onde ela recebeu orientação de alguém influente no ‘BBB’. “Eu entrei naquele confessionário e falei com pessoas lá dentro. Pessoas grandes, importantes do programa. Falaram pra mim: ‘a gente olha pra você e vê boas qualidades. Não se resuma a uma coisa, de um dia de desequilíbrio. Tá todo mundo sujeito a passar aqui’”, contou a Nego Di e Arthur.
Segundos depois, Conká tentou se corrigir. “É sobre quando eu falei com a psicóloga”, afirmou, sem convencer. Desde quando a psicóloga faz parte do grupo de “pessoas grandes, importantes” do programa? Dedução óbvia: Karol teria conversado com produtores e diretores — estes, sim, poderosos e decisivos.
A Globo sempre nega interferência externa no Big Brother. Mas e possível intervenção interna, da parte daqueles que estão a poucos metros dos competidores, na equipe que faz a atração acontecer? Seriam essas “pessoas grandes, importantes” as mesmas que conversaram com Projota para orientá-lo após a eliminação de Lucas, conforme áudio vazado e cujo conteúdo não foi negado pela emissora?
Na hipótese de alguém, ou mais de um profissional do canal, se prestar a instruir Conká, fazendo a cantora acreditar que está bem avaliada e por cima no jogo, trata-se de incentivo à autodestruição. Mais corda para ela enrolar no pescoço. Por outro lado, ninguém pode sussurrar em seu ouvido: “Você é a mulher mais odiada do Brasil no momento”. O choque emocional teria consequências imprevisíveis.
Para o espetáculo que o ‘Big Brother’ promete entregar à audiência, manter uma Karol com aspecto de vilã é mais interessante do que ter uma Karol penitente e boazinha. A respeito do que teriam dito a ela no confessionário, não se tratou apenas de “um dia de desequilíbrio”.
O que se viu desde o início do ‘BBB21’ é uma sequência de maldades e equívocos, show detestável de egocentrismo e falta de empatia. Por enquanto, as tais “boas qualidades” de Karol Conká — e certamente existem — só ficaram explícitas para as misteriosas “pessoas grandes, importantes” que agem nos bastidores, distantes do olhar dos telespectadores e do monitoramento da imprensa.
Contudo, vamos acreditar, ela ainda pode surpreender positivamente. Basta que enxergue seus erros, demonstre arrependimento sincero e se corrija. Não é fácil atingir tal nível de entendimento quando se está confinado em uma realidade paralela. “Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante”, escreveu George Orwell, autor de ‘1984’, o romance distópico que inspirou a criação do formato ‘Big Brother’ para TV.