Quantas pessoas podem ter sido contaminadas por Jair Bolsonaro? Em busca dessa resposta, a GloboNews produziu uma retrospectiva dos passos do presidente nos últimos dias. Listou todos os eventos públicos e reuniões privadas com a presença dele. A exibição aconteceu nos telejornais vespertinos e noturnos do canal na terça-feira (7). Em entrada ao vivo no Edição das 18h, o repórter Vitor Boyadjian lançou a questão: "Quantos foram contaminados pelo presidente?"
A emissora de notícias do Grupo Globo também fez uma arte exibida em telão no estúdio com uma comparação entre frases polêmicas de Bolsonaro e a curva de contaminações e mortes provocadas pela doença. Sugeriu que o desdém e as ironias do presidente ao minimizar a letalidade da covid-19 contribuíram para o agravamento da pandemia no Brasil. Não faltaram o "É uma gripezinha", o "E daí?", o "Não sou coveiro" e o "Não faço milagre".
O comentarista de política Gerson Camarotti chamou Bolsonaro de "irresponsável" por ter comparecido a compromissos no último fim de semana, quando já apresentava sintomas. "Ele se tornou um vetor de transmissão da covid-19", afirmou.
O mesmo jornalista criticou a atitude do presidente no momento do anúncio do resultado positivo de seu exame para equipes da RecordTV, CNN Brasil e EBC, quando tirou a máscara durante a entrevista coletiva e se manteve a poucos passos dos repórteres e cinegrafistas. "Deu mau exemplo", disse Camarotti. "Parece despreocupado em contaminar outras pessoas. Colocou em risco os profissionais da imprensa."
Outro analista da GloboNews, Fernando Gabeira, contemporâneo de Bolsonaro quando exerceu mandatos de deputado federal pelo PT e PV, classificou o presidente como "idiota perigoso". Ele deduziu que Bolsonaro tentou tirar proveito político da situação ao se colocar diante das câmeras e desprezar os possíveis efeitos da covid-19. "Qualquer outro presidente da República faria um comunicado por escrito", concluiu.
O âncora César Tralli disse que Bolsonaro age com "insensibilidade" diante do risco de infectar outras pessoas. "Se ele está preocupado com a doença, tenta não passar isso ao público, até prega o não uso da máscara", disse o apresentador. "Ele vai na contramão das recomendações médicas."
No programa Em Pauta, conduzido por Marcelo Cosme, a repórter de TV mais influente do momento, Andréia Sadi, disse que várias de suas fontes — ministros e assessores diretos de Bolsonaro — estão apreensivos com a possibilidade de terem sido contaminados pelo presidente. "Triste e preocupante", opinou.
Na mesma atração, Mônica Waldvogel demonstrou ceticismo em relação a uma possível "redenção" de Bolsonaro agora que ele entra para a estatística de brasileiros contaminados. A comentarista citou o exemplo de outro político até então negacionista, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que mudou o discurso e passou a defender todos os protocolos dos órgãos de saúde após ir parar na UTI por conta do coronavírus.
No Jornal das 10 ancorado por Heraldo Pereira, os comentaristas reforçaram o tom crítico a Bolsonaro. Cristiana Lôbo destacou a decisão do presidente de falar da saúde com algumas emissoras de TV. "Estranho, diferente, a forma como decidiu anunciar o resultado", observou. "Me chamou atenção ele dizer que não se assustou com o diagnóstico, ele se achava invencível, inatingível." Em outro momento, a veterana jornalista afirmou que o presidente "confunde a sociedade" ao insistir na defesa da hidroxicloroquina (substância sem comprovação científica contra os efeitos mais graves do coronavírus no organismo) e ao tirar a máscara em público. "Ele continua politizando a covid-19, mesmo agora como paciente."