Os atores afirmam que a comédia é o gênero mais difícil. Acrescente-se obstáculo extra quando o roteiro não ajuda a performar. Foi o que se viu na estreia do Fora de Hora, na terça-feira (21). O aguardado novo humorístico da Globo constrange de tão desinteressante.
A ambição era fazer uma zombaria de recortes do jornalismo feito em TV. Essa ideia está longe de ser original, mas poderia render um programa divertido em tempos de overdose de notícias, fake news e pós-verdades. Contudo, o Fora de Hora desperdiçou as possibilidades de debochar dos policialescos, das pautas superestimadas e do comportamento às vezes esdrúxulo dos âncoras.
O script enfadonho dinamitou o carisma dos humoristas Paulo Vieira e Renata Gaspar, ocupantes da bancada do fictício telejornal que serve de base para o humorístico. A ele coube o papel do apresentador bobalhão – não faltou nem a cadeira quebrada em tentativa de chacota a respeito de seu sobrepeso. Ela sofreu na pele da apresentadora arrogante. Deveria parecer espirituosa, porém ficou somente chata.
O maior problema são as piadas: algumas velhas, outras incompreensíveis. Os atores fazem o possível, mas boas atuações não salvam sozinhas um texto ruim. Outra disfunção está no resultado da colagem de formatos. O Fora de Hora ficou com cara de pastiche piorado de produtos bem-sucedidos como o Zorra, o CQC, o Isso a Globo Não Mostra e o Tá no Ar.
Na estreia, o melhor momento foi a imitação do presidente Jair Bolsonaro feita por Marcelo Adnet. Pouco para um programa que passou meses sendo gestado por numerosa equipe de redatores. Chega a ser injusto analisar uma atração apenas por sua estreia, ainda que esta seja uma das funções da crítica de TV. Tomara que o Fora de Hora se reinvente. Há ali talentos de sobra – e farta matéria-prima no espantoso noticiário brasileiro do momento – para oferecer o entretenimento de qualidade que o público quer e merece ver.