Na década de 1970, o jovem cacique Aritana se tornou internacionalmente famoso por defender a preservação das terras de seu povo, os yawalapiti, no Alto Xingu, no Mato Grosso. Ele também se destacava pela beleza e o desempenho imbatível como lutador de huka-huka, espécie de arte marcial popular em várias tribos daquela região. A projeção social e a visibilidade midiática do índio valente e engajado inspirou a autora Ivani Ribeiro (1922-1995) a escrever uma novela com temática indígena. O título? Aritana. O cacique morreu na quarta-feira (5), aos 71 anos, vítima de complicações de covid-19.
No ar de novembro de 1978 a abril de 1979, na TV Tupi, o folhetim das 20 horas foi protagonizado por Carlos Alberto Riccelli no papel do índio miscigenado (filho de um branco com uma índia) dedicado a defender sua tribo da exploração comercial representada por seu tio, um fazendo ambicioso ligado a um grupo norte-americano. No começo da trama, a ardilosa Estela (Bruna Lombardi) tenta seduzir Aritana para convencê-lo a abrir mão das terras. Mas logo ela cai de paixão pelo nativo e passa a ajudá-lo contra os interesses nefastos da sociedade dita civilizada. Foi nos bastidores dessa novela que Riccelli e Bruna iniciaram sua história de amor que já dura 42 anos.
Se hoje há intenso conflito entre a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e entidades de defesa da natureza e dos índios, durante a exibição de Aritana houve ruidosa contestação do folhetim por parte de antropólogos, ambientalistas e indigenistas. De um lado, acusaram a autora de criar um herói indígena estereotipado a partir do olhar do branco urbano, e transformar os índios de verdade em meros figurantes. Do outro, disseram que a novela demonizava os produtores rurais e o extrativismo das riquezas no entorno de áreas indígenas.
A polêmica fez bem a Aritana. A novela teve audiência crescente, mesmo disputando público durante algum tempo com o fenômeno Dancin’ Days, da Globo. Controvérsias à parte, a crítica especializada em TV aprovou a temática central sobre a ameaça aos índios. As revistas de fofocas acompanharam com frisson a paixão de Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi. O sucesso de Aritana impulsionou o turismo controlado ao Xingu e atraiu a atenção do resto do planeta para as reivindicações dos índios brasileiros.