Lembra do ‘Lulinha Paz e Amor’? O slogan criado pelo então marqueteiro do PT Duda Mendonça vendeu uma versão ‘soft’ de Lula para o mercado financeiro, a classe média, a elite e a mídia. Deu certo. Após três derrotas nas urnas, associadas à imagem de radical, o líder da esquerda, devidamente repaginado, venceu a eleição presidencial de 2002.
Agora se vê uma tentativa de aplicar a mesma fórmula no atual presidente. Na sequência de dias extremamente tensos pela expectativa de um golpe em 7 de setembro, surgiu o ‘Jairzinho Paz e Amor’. Ofereceu trégua ao arqui-inimigo ministro do STF Alexandre de Moraes, fez as pazes com o vice Mourão, baixou o tom nas redes sociais e até se ofereceu para ser entrevistado pela Globo.
Para os telejornais com posicionamento antibolsonarista, esse comportamento quase diplomático do presidente tira força da pauta diária. Como criticá-lo quando ele deixa de xingar, debochar, provocar, desrespeitar, enfim, desestabilizar os pilares da República? Um presidente contido não rende manchetes contundentes e, consequentemente, atrai menos atenção do telespectador.
A imprensa progressista americana, que tanto demonizou Donald Trump, hoje sente saudade dele. O afável e insosso Joe Biden raramente gera polêmica. Ótimo para a estabilidade do País, péssimo para o jornalismo político e econômico, que fica sem matéria-prima quente. Por aqui, o Bolsonaro ‘light’ deixa tira a munição de âncoras e comentaristas.
Nos últimos dias, enquanto esteve recolhido e adotou certa autocensura, ele teve pouca visibilidade negativa em canais ‘inimigos’, como Globo, GloboNews e CNN Brasil. Na edição de segunda-feira (27) do ‘Jornal Nacional’, o presidente apareceu menos de 1 minuto. Em suas piores fases de irascibilidade, Bolsonaro chegou a ‘apanhar’ no telejornal por 30 minutos em um único dia.
Sob pressão por audiência, muitas redações seguem a norma ‘notícia boa é notícia ruim’. O público tem sua parcela de responsabilidade nessa distorção. Boa parte das pessoas – talvez a maioria – não se interessa por matérias positivas com personagens inspiradores. Gosta mesmo é de assistir a conflitos, controvérsias, sensacionalismo. Definitivamente, ‘Jairzinho Paz e Amor’ não é tão interessante nem faz tanto sucesso quanto ‘Jairzão Tiro, Porrada e Bomba’.