O Jornal Nacional optou não utilizar material da EBC, a estatal de comunicação do governo, do anúncio feito por Jair Bolsonaro de que está com covid-19. Para dar a notícia, os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos leram 'nota seca', jargão jornalístico para um texto apresentado sem o acompanhamento de imagem. O presidente chamou ao Palácio da Alvorada apenas a EBC, a RecordTV e a CNN Brasil para registrar seu comunicado sobre o diagnóstico. Classificada como 'inimiga', a Globo ficou de fora.
Alvo frequente de sugestões de boicote por parte de bolsonaristas, a principal emissora do clã Marinho tem 'boicotado' Bolsonaro nos últimos tempos. Exibe imagens e sonoras do presidente apenas quando é imprescindível. Há evidente tentativa de não promovê-lo no horário mais nobre e de maior audiência do telejornalismo brasileiro. Mais do que isso, o JN se tornou a atração mais crítica a Bolsonaro, com frequentes contestações do que ele diz e de como age em relação aos protocolos de prevenção de contaminação da covid-19.
Esse jornalismo de oposição ao presidente surte efeito no Ibope. O JN está com médias diárias acima de 30 pontos, índice que representa 6 milhões de telespectadores a cada noite somente na região metropolitana de São Paulo. O efeito colateral é a hostilização sofrida por equipes da Globo e especialmente pelo apresentador e editor-chefe William Bonner. Ele passou a evitar aparições públicas depois de receber xingamentos e provocações. O jornalista que já foi desafiado por Bolsonaro para um confronto cara a cara diz não entender o "ódio" e a "maldade" dos ataques contra ele.