A edição de sábado (1) do 'Jornal Nacional' surpreendeu ao destacar um vídeo de Lula com mensagem sobre o Dia do Trabalho. Foi exibido um trecho de 25 segundos, no qual o petista faz crítica indireta ao governo de Jair Bolsonaro.
"O Brasil, o povo, as trabalhadoras e os trabalhadores, as crianças, os jovens e os aposentados não deveriam estar passando por tanto sofrimento", disse. "Minha indignação diante de tanta injustiça é muito grande. Mas ainda maior que a indignação é a confiança no povo brasileiro. Ele é maior que essa gente que está destruindo nosso país".
Um desavisado acharia se tratar de um programa do horário eleitoral gratuito. A mesma matéria sobre a comemoração on-line promovida por centrais sindicais exibiu fragmentos de declarações dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, e do ex-candidato à Presidência Ciro Gomes. A Globo usou imagens da TVT, a TV dos Trabalhadores.
Na sequência, o 'JN' dedicou 1 minuto e 55 segundos para mostrar manifestações de apoio a Jair Bolsonaro em várias cidades. A reportagem acompanhou o helicóptero da Presidência sobrevoando o protesto em Brasília e citou a presença dele na aeronave. O presidente não apareceu em nenhuma imagem.
Desde o processo de impeachment de Dilma, em 2016, Lula tem sido um crítico contumaz da Globo. A fúria contra a emissora aumentou no período em que ficou preso em Curitiba. Na época, ele desafiou o âncora e editor-chefe do 'JN', William Bonner, a um encontro cara a cara. Disse esperar um pedido de desculpas do canal da família Marinho.
O tom contra o canal carioca ficou ainda mais provocativo após o STF anular as condenações dele na Lava Jato. Dias atrás, ao ser entrevistado pelo âncora Sami Zeidan, da TV árabe Al Jaazera, o petista incluiu a Globo entre os "culpados" por suas sentenças e reclamou da falta de um "mea-culpa".
"São anos contando mentiras sobre o Lula, que envolve procuradores, o ministro (Sergio Moro, juiz do caso) e os meios de comunicação, liderado pelo canal de televisão mais importante do Brasil. Como mentiram por cinco anos, não têm como agora voltar atrás", declarou.
"Eu fico na expectativa de que algum deles, ou a televisão (Globo), ou a Polícia Federal, ou o Ministério Público, apresentem uma única prova contra mim. Quando eles apresentarem, eu ficarei desmoralizado e você nunca mais vai me entrevistar".
Apesar dos recorrentes pedidos de Lula por uma entrevista, a Globo não o convidou a participar de nenhum de seus telejornais ou programas jornalísticos. Assim como o petista, Jair Bolsonaro também vê a emissora como maior "inimiga" na mídia. Os dois lideram as pesquisas de intenção de votos para a corrida presidencial de 2022.