O relatório ‘Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil’, produzido pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), se tornou arma perfeita para a Globo contra-atacar o seu maior crítico, Jair Bolsonaro. Na edição de terça-feira (26), o Jornal Nacional destacou as agressões do presidente à imprensa em geral.
“O relatório mostra que foram 428 casos de violência, mais do que o dobro (105,77%) que o já alarmante número de 208 ocorrências registradas em 2019”, informou o repórter Vladimir Netto, filho da comentarista de economia Miriam Leitão, que já foi alvo de ataques de Bolsonaro em razão de seu passado de militante contra a ditadura.
“A Fenaj afirma que a explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa, e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas”, disse Netto.
O relatório apontou 175 ações de hostilidade do presidente à imprensa no ano passado. Do total de casos apurados pela Fenaj, 24% tiveram como alvo os jornalistas que trabalham em televisão. “O Palácio do Planalto não quis se manifestar”, comentou a âncora Renata Vasconcellos.
Nesse percentual de profissionais de TV sob fogo presidencial está o apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional, William Bonner, inimigo número 1 de Bolsonaro na mídia. No começo de janeiro, o presidente o xingou diante de câmeras e celulares (“sem-vergonha”, “maior canalha”) e, tempos atrás, o desafiou a um ‘duelo’ olho no olho na bancada do ‘JN’.
Atacado nas redes sociais e insultado em público algumas vezes por apoiadores de Bolsonaro, Bonner nunca rebateu diretamente. No último dia 14, desabafou ao vivo: disse que “loucos, irresponsáveis” espalham “mentiras absurdas, crendices” sobre a pandemia de covid-19 e as vacinas. “Tem gente que faz isso vestido de cargo público”, indignou-se.
Essa crítica foi endereçada a Bolsonaro e seus simpatizantes, sem dúvida. Uma resposta indireta do âncora a seu maior desafeto. Os valiosos 3 minutos dados pelo ‘JN’ à denúncia da Fenaj — com destaque para a belicosidade on-line de Jair Bolsonaro — foi uma maneira de Bonner e a Globo refutarem o presidente.