‘JN’ faz rara defesa de Bonner e Renata contra os Bolsonaros

Matéria sobre investigação de Felipe Neto aborda denúncia feita por filho do presidente a respeito dos âncoras da Globo

20 mar 2021 - 09h58

Na edição de sexta-feira (19), pela primeira vez, o ‘Jornal Nacional’ abordou o inquérito de desobediência a uma decisão judicial que teria sido praticada por William Bonner e Renata Vasconcellos. A investigação aconteceu a partir de notícia-crime apresentada à Polícia Civil pelo senador Flavio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

Bonner e Renata jamais falaram publicamente do inquérito que os investigou sobre suposta desobediência judicial a partir de denúncia de Flavio Bolsonaro
Bonner e Renata jamais falaram publicamente do inquérito que os investigou sobre suposta desobediência judicial a partir de denúncia de Flavio Bolsonaro
Foto: Reprodução

O político envolvido no escândalo das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio alegou que os âncoras do ‘Jornal Nacional’ noticiaram informações sobre o caso mesmo com uma proibição da Justiça de citar ou exibir dados sigilosos da investigação. Em dezembro, Bonner e Renata chegaram a ser intimidados a depor.

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No mês passado, a juíza Maria Tereza Donatti, do 4° Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro, encerrou o inquérito a fim de “restaurar a normalidade e resguardar o livre exercício da imprensa”. Ao longo desses quatro meses, a Globo conduziu a briga jurídica com discrição. Não houve abordagem no ‘Jornal Nacional’.

Ontem, o telejornal aproveitou outro caso envolvendo um filho do presidente para se manifestar em prol de Bonner e Renata. A denúncia de Carlos Bolsonaro contra o influenciador digital Felipe Neto, por ter chamado Jair Bolsonaro de genocida, gerou uma matéria na qual foi citado o inquérito contra os apresentadores.

“O Ministério Público determinou o arquivamento desse processo por considerar sem fundamento a acusação contra os jornalistas, e ressaltou que deve prevalecer, neste caso, a liberdade de informação”, afirmou o repórter Helter Duarte. Felipe Neto surgiu na matéria para defender a ele próprio e os âncoras do ‘JN’.

“Se a gente considerar que o mesmo delegado instaurou uma investigação ilegal, no uso da palavra utilizada pela juíza, contra mim, por crime contra a Segurança Nacional, e que esse mesmo delegado, me indiciou ano passado, por corrupção de menores, sem ter feito qualquer investigação, e que esse mesmo delegado, também instaurou inquérito e indiciou os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, e que todos esses pedidos foram feitos ou por filhos do presidente da República ou por políticos ligados ao presidente da República, eu acho que fica bem fácil pra gente concluir que a polícia vem sim sendo utilizada como instrumento de perseguição política”, disse.

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O que se viu foi, ao longo de 5 minutos, a Globo marcar posição pelo direito de qualquer pessoa criticar os Bolsonaros e de o ‘JN’ informar a respeito de eventuais acusações contra o clã do presidente. Na volta da imagem ao estúdio, Bonner deu a versão dos investigadores: “A secretaria de Polícia Civil do Rio afirmou que o trabalho da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática é técnico, baseado nas leis e sem perfil ideológico”.

Chega ao fim mais um episódio da guerra entre a Globo e a família Bolsonaro. Um conflito com acusação de falta de imparcialidade jornalística e perseguição ideológica, ameaça de suspender a concessão do canal, ofensas verbais e on-line contra os âncoras e até caretas debochadas ao se noticiar sobre o presidente e seu governo.

Apesar dos inúmeros ataques do presidente contra os âncoras — Bolsonaro chegou a xingar Bonner de “maior canalha” e “sem-vergonha” —, a emissora decidiu não responder diante das câmeras. Ignorou as provocações amplamente repercutidas na imprensa e nas redes sociais. Os apresentadores também mantiveram o silêncio. Resta aguardar as próximas manchetes desse combate sem previsão de trégua nem fim.

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