Foram longos cinco minutos. Duração incomum para uma matéria de telejornal. Na edição de segunda-feira (16), o ‘JN’ exibiu verdadeiro dossiê a respeito dos candidatos de Jair Bolsonaro com votação abaixo da expectativa.
“Nesta eleição, diferentemente do que aconteceu dois anos atrás, o apoio do presidente Jair Bolsonaro não se concretizou em votos nas urnas”, introduziu a âncora Renata Vasconcellos.
A matéria foi feita pela veterana repórter Delis Ortiz, aquela que presenteou Bolsonaro com uma Bíblia em um café da manhã a jornalistas no Palácio do Planalto e pediu desculpas ao presidente ao contestá-lo em uma coletiva em março.
Com a utilização de gráficos, ressaltou-se o mau desempenho da maioria dos postulantes a prefeito e vereador que usaram o nome e a imagem de Bolsonaro, ou foram diretamente citados por ele em ‘lives’.
“O argumento de que a derrota não foi de Bolsonaro, gera uma percepção desencontrada da realidade”, disse Delis. Ela ouviu o cientista político Creomar de Souza, que chancelou o fracasso do apoio de Bolsonaro à maioria dos candidatos.
Pouco depois, a mesma matéria foi ao ar no ‘Jornal das 10’ da GloboNews. Os comentaristas do canal foram ainda mais enfáticos na afirmação de que os resultados da eleição diminuíram o prestígio político do presidente.
Inegável o contexto jornalístico da reportagem. O ‘JN’ se baseou em dados oficiais para sustentar a percepção apresentada também por outras emissoras. Mas o presidente e os bolsonaristas certamente interpretaram como tentativa de provocação e humilhação.
Nos últimos dias, a Globo tem sido alvo de ataques nas redes sociais de políticos e anônimos por conta da iminente candidatura de Luciano Huck à Presidência em 2022. O próprio presidente comentou o assunto tempos atrás.
Sustenta-se a narrativa de que o canal está por trás do projeto político de seu apresentador, obstinado a criar uma chapa de centro-direita a fim de impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. O Grupo Globo nega qualquer envolvimento.