A frase “Chefe, o Brasil está quebrado, eu não posso fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia”, dita por Jair Bolsonaro a um apoiador e captada por equipes de reportagem na saída do Palácio da Alvorada, na terça-feira (5), teve repercussão bombástica na mídia e nas redes sociais.
A maioria dos telejornais da noite destacou a declaração controversa na escalada (o anúncio das manchetes feito pelos apresentadores na abertura da edição). Mas, estranhamente, o ‘JN’ minimizou a notícia. Não tocou no assunto ao apresentar os destaques e só dedicou 1 minuto ao fato mais comentado do dia no País. A tal explicação do presidente foi editada: Bonner leu o trecho inicial com entonação semelhante à de um ator interpretando um texto. Não foi usada a imagem nem o áudio do presidente, como fizeram outros canais.
Editor-chefe do ‘JN’, Bonner fez breve comentário crítico a Bolsonaro, com um erro de português no final ("cidadões"), imediatamente corrigido pelo âncora. “Os números oficiais das secretarias estaduais de Saúde mostram que o vírus a que se refere o presidente Jair Bolsonaro está se espalhando pelo Brasil a taxas maiores desde dezembro. Esse vírus contaminou, até agora, quase 8 milhões de pessoas no país todo e levou luto às famílias e aos amigos de mais de 197 mil cidadões (corrigiu-se) ou cidadãos brasileiros.”
Conclusão óbvia: essa cobertura tímida do ‘Jornal Nacional’ é uma estratégia para não dar publicidade excessiva a Bolsonaro. Em outras ocasiões, o telejornal também optou não mostrar o presidente — apenas relatou o ocorrido por meio de ‘nota seca’ (notícia lida pelo apresentador, sem imagem, foto ou ilustração). Recurso usado quando uma emissora não quer usar material de concorrentes ou pretende dar menos ‘cartaz’ a uma pessoa, marca, instituição ou ideologia.
Menos de uma hora depois do fim do ’JN’, os comentaristas do ‘Em Pauta’, na GloboNews, dispararam críticas contra a alegação de Bolsonaro. Eliane Cantanhêde e Andréia Sadi negaram que o Brasil esteja quebrado. Disseram que a frase do presidente deixa investidores inseguros e prejudica a economia do País. Elas contestaram o argumento de que “a culpa é sempre da mídia” no caso da insinuação de que a pandemia ganha dimensão exagerada no noticiário. Homem de confiança do clã Marinho, dono do Grupo Globo, Merval Pereira destacou outra afirmação de Bolsonaro na rápida conversa com simpatizantes em Brasília: “Vão ter que me aguentar até o final de 2022”. Na interpretação do veterano jornalista, o presidente sinalizou que pode desistir de disputar um segundo mandato na eleição a ser realizada no final do ano que vem.