Em 2021, menos gente ouviu o “boa noite” de William Bonner e Renata Vasconcellos. Na comparação com o ano passado, o ‘Jornal Nacional’ perdeu 3 pontos de audiência no PNT (Painel Nacional de Televisão). Redução de 2,1 milhões de telespectadores nas 15 regiões metropolitanas onde a Kantar Ibope faz a aferição.
Será o pior ano de público para o ‘JN’ desde 2015. Ainda que a liderança não esteja ameaçada, já que Record TV e SBT não conseguem sequer metade do índice da Globo na mesma faixa horária, a luz amarela pisca incessantemente na redação do Jardim Botânico.
A concorrência está cada vez maior e mais diversificada nos canais pagos e nos serviços de streaming. Muitos brasileiros deixaram de consumir as notícias do telejornal das 20h30 para acompanhar filmes, séries e novelas inéditas e antigas em outras plataformas.
O fator “isso eu já vi” também prejudica o desempenho do ‘Jornal Nacional’. Ao longo do dia, milhões de pessoas acessam notícias pelo celular e não têm interesse em conferir as mesmas informações na TV. O formato antigo, baseado no burocrático resumo das principais manchetes do dia, não empolga mais.
Um telejornal que se pretende relevante precisar ir além do óbvio: apresentar análises e comentários de especialistas, oferecer ao público mais do que o básico. Vivemos em um mundo no qual as pessoas querem ser provocadas a se posicionar. Quem foca naquele telespectador passivo afundado no sofá vai perder o bonde da história.
Ao testemunhar a agonia dos veículos impressos diários, que estão ‘morrendo’ por insistir nas notícias que todo mundo já leu antes on-line, os jornalísticos de TV precisam investir em matérias especiais, séries de reportagens, ‘furos’, maior participação de formadores de opinião. Inovar, agregar, surpreender.
A queda de audiência do ‘JN’ pode ocorrer, em parte, também por contaminação político-ideológica. Em um País polarizado, o telejornal desagrada tanto o telespectador de direita quanto o de direita. Teoricamente, é a prova de que está no caminho certo, o da imparcialidade, porém, na prática, há desconfiança de tendencionismo na linha editorial. Algumas campanhas na internet propuseram boicotá-lo. Talvez a adesão, ainda que baixa, começou a ser detectada pelo Ibope.
O controle da pandemia de covid-19 afastou número relevante de público do telejornalismo. Em 2020, com as pessoas confinadas em casa e ávidas por informações sobre o coronavírus, o ‘Jornal Nacional’ chegou a atingir picos de quase 40 pontos em algumas edições. Este ano, na esteira do menor interesse pela pauta, teve recorde negativo de 19 pontos.
Ano eleitoral costuma render aos telejornais pela produção infindável de notícias sobre as campanhas e os candidatos. A provável guerra entre Bolsonaro, Lula e o representante da Terceira Via tem potencial de levar mais gente para diante da TV para assistir à troca de acusações, ironias e provocações entre os presidenciáveis.
Em razão de sua influência, a Globo estará no olho do furacão. Alvo de ataques de todos os campos no espectro político e, ao mesmo tempo, sendo cortejada de lado a lado por ser o mais poderoso cabo eleitoral do País. O ‘JN’ certamente ganhará alguns pontos extras de audiência com a cobertura daquela que poderá se tornar a mais tensa eleição de todos os tempos.