O Brasil vive o caos – ou está bem perto disso. Deprimidos devem evitar os telejornais. As notícias são capazes de desanimar até o mais serelepe folião carnavalesco.
A telenovela serve de escapismo ao brasileiro: embarcar algum tempo na ficção para esquecer a realidade incômoda. E assim as tramas atuais registram audiência acima da média.
Os vilões dos folhetins, por mais realistas que sejam, são fichinha na comparação com os inimigos da vida real. Neste momento, a insegurança pública parece ser o mais cruel deles.
A cada dia, a TV lança novas manchetes sobre a escalada interminável da violência. Em algumas matérias, os repórteres surgem usando colete à prova de balas. O Brasil está em guerra consigo mesmo.
Muita gente sai do trabalho e vai correndo para casa, senta-se diante do aparelho de televisão e tenta se abstrair do medo e da desesperança.
O genial dramaturgo Nelson Rodrigues disse: “A televisão matou a janela”. É que a gente passou a ter medo de olhar pra fora.
As novelas ajudam a desestressar. O entretenimento ganha função terapêutica. Na tela, a vida de mentira tranquiliza o cidadão entorpecido.
Steve Jobs, fundador da Apple, deixou uma frase carregada de sarcasmo e verdade: “As pessoas ligam a TV quando querem desligar o cérebro”.
A televisão instrui e faz pensar, é claro. Mas a função primordial é essa mesmo: nos tirar da realidade dolorosa e oferecer um analgésico emocional de curta duração.
Pesquisa da GfK mostrou que o brasileiro tem ficado cada vez mais tempo diante da TV. Ao viver a vida alheia suportamos melhor a nossa própria existência aflitiva.
Contudo, a certa hora somos obrigados a acionar o controle remoto para desligar essa fuga. O mundo real, infelizmente, não é uma novela com garantia de final feliz.
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