Chega um dia em que o homem precisa deixar tudo para trás a fim de conseguir seguir em frente. Esse tempo se impôs a Tiago Leifert. A anunciada saída da Globo, em dezembro, marca o fim de uma trajetória vitoriosa na televisão e o início da sonhada nova vida.
Sair de cena quando se atinge o auge da carreira exige elevado grau de coragem e desprendimento. Após ser louvado por crítica e público ao conduzir o ‘Super Dança dos Famosos’, o apresentador conquistou, merecidamente, status imensurável na emissora. Tornou-se imprescindível.
Poucos sabiam que, nos bastidores, sua despedida do vídeo já estava sendo costurada de maneira discreta e cordial desde o ano passado. Apesar de chegar ao ápice sonhado por todo comunicador de TV, Leifert não se deixou seduzir por popularidade, status, salário milionário, privilégios e poder.
Por que renunciar a uma posição tão importante? Simples: há coisas mais valiosas do que ser um dos principais apresentadores da Globo. Exemplos: passar mais tempo ao lado da mulher que ama, acompanhar o crescimento da filha, livrar-se da pressão por resultados extraordinários, deixar de ser julgado a cada declaração, sair da mira de haters.
Em 16 anos no canal carioca, Tiago experimentou as dores e delícias de ser um repórter admirado e, depois, uma celebridade do entretenimento. Sua decisão de afastar-se dos holofotes pode ter a ver com a preocupação com saúde mental. Psicólogo de formação, ele sabe o impacto emocional negativo da superexposição prolongada.
Sua mulher, Daiana Garbin, teve a mesma atitude corajosa em 2016. Estava em situação confortável como repórter da Globo quando decidiu deixar a emissora para se dedicar à criação de conteúdo focado em bem-estar psicológico e qualidade de vida, a partir de batalha pessoal contra um transtorno alimentar com consequências na psique.
Ela lançou dois livros, um deles com o título ‘A Vida Perfeita Não Existe’. Na obra, a jornalista ressalta a importância de encararmos os sentimentos mais dolorosos para criar outra atitude em relação à vida. Esse conceito lembra o processo terapêutico desenvolvido pelo psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981): precisamos assumir a responsabilidade pela geração de nossos sofrimentos e fazer a escolha consciente de quem queremos ser.
Como se constata, Tiago Leifert tem em casa uma grande fonte de inspiração para tentar ser mais equilibrado e feliz. Ao sair da Globo pela porta da frente e mais respeitado do que nunca, o apresentador prova ser dono do próprio destino. “Se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo”, disse Lacan. Após colocar fogo no parquinho, Leifert parece querer a calma e a liberdade.