Tem gente que odeia uma coisa, mas não vive sem ela. É o caso dos mais importantes líderes políticos do Brasil na atualidade: Lula e Bolsonaro atiram sem parar contra o jornalismo da Globo. Ao mesmo tempo aproveitam a imensurável visibilidade do horário nobre para transmitir suas ideias a milhões de pessoas.
Em 2019, ambos se uniram contra o 'Jornal Nacional' e William Bonner. O principal telejornal do canal e seu apresentador e editor-chefe foram criticados incontáveis vezes pelo antigo e o atual ocupantes do Palácio do Planalto. Os dois generais da política se dizem perseguidos e injustiçados pela TV do clã Marinho.
A artilharia contra a mais influente emissora do País tem o apoio de uma legião de discípulos. Apesar desse contingente, todas as tentativas de boicote falharam. O 'JN' teve em 2019 um dos melhores resultados no Ibope nos últimos anos. Em algumas edições, chegou a ser visto por quase 8 milhões de telespectadores somente na Grande São Paulo e até superou o público da novela das 21h.
Lula e Bolsonaro não cansam de tentar estilhaçar essa enorme vitrine. Ao vivo numa rede social, o presidente de direita xingou a Globo de "porca, nojenta, canalha". Numa entrevista, ainda na prisão, o ex-presidente esquerdista disse que o canal está "uma vergonha". "Tenho vontade de ir para a porta da Rede Globo, desmenti-la", avisou.
Mesmo em guerra contra a rede carioca, os dois não recusam aparecer na sua tela. Muito pelo contrário. Fazem o possível para marcar presença. Recentemente, exigiram espaço no 'Jornal Nacional' para rebater notícias negativas a respeito deles. Fizeram um desafio pessoal a William Bonner, visto por ambos como uma espécie de personificação do mal na imprensa televisiva. Ficaram falando sozinhos. O apresentador os ignorou.
Ao ser detestada pela direita e também pela esquerda, a Globo viu seu jornalismo ser fortalecido. Com a exibição de vasto material explosivo contra Lula e Bolsonaro, o canal conseguiu minimizar a acusação de ser tendencioso e partidário. A emissora, que já foi acusada de favorecer quem estava no poder e também praticar oposição forçada, agora se coloca acima dessa questão.
O jornalismo global ganha mais relevância na mesma proporção da quantidade de desafetos poderosos que faz. Presidentes vêm e vão, a Globo permanece.