Adversários ideológicos e políticos, Lula e Bolsonaro, quem diria, têm um objetivo comum: digladiar com William Bonner.
Os dois líderes estão furiosos com citações a eles no Jornal Nacional. Querem um embate, cara a cara, com o âncora e editor-chefe do Jornal Nacional.
O petista culpa o jornalismo da Globo por sua condenação na Lava Jato. Em todas as entrevistas concedidas na PF de Curitiba, Lula ataca o jornalista e o canal da família Marinho.
O ex-presidente disse que fará um protesto diante da porta da emissora quando sair da cadeia. Ele está inconformado porque a Globo não manifestou interesse em entrevistá-lo na prisão.
A ira de Bolsonaro está relacionada à cobertura do caso Queiroz envolvendo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e à recente ‘bomba’ exibida no JN: a citação do nome do presidente, a partir do depoimento de um porteiro do condomínio onde ele mora, na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Lula, em entrevistas, e Bolsonaro, em transmissão nas redes sociais, pediram espaço no Jornal Nacional para se defender. No fundo, querem um debate direto com Bonner, a quem responsabilizam por hipotética perseguição do jornalismo do canal mais influente do País.
A pergunta é: Bonner vai aceitar tal desafio? Em nome da imparcialidade e do contraditório, deveria abrir espaço especial ao ex e ao atual presidentes. O confronto de opiniões – e das versões conflitantes de uma mesma notícia – é a base do jornalismo profissional.
Na prática, dificilmente o telespectador vai assistir a um ‘olho no olho’ entre o apresentador do JN e seus dois desafetos poderosos. O resultado seria imprevisível.
O debate poderia se transformar em uma discussão fora de controle, com excesso de agressividade verbal. Afinal, Lula e Bolsonaro estão com ‘sangue nos olhos’.
Sob forte pressão, o jornalismo da Globo tem o desafio extra de se mostrar imparcial e confiável e, ao mesmo tempo, promover a autopreservação. A vida não está nada fácil para William Bonner.