O amor incondicional de uma mãe por um filho possui um contraponto terrível: o sofrimento incomparável de enterrar um descendente gerado no próprio útero. Neste ano de tantas perdas no universo da TV, mães de três homens famosos viveram essa experiência trágica.
Em fevereiro, dona Mercedes Carrascal, 87 anos, emocionou a todos ao mostrar força e nobreza de alma no enfrentamento da morte de seu filho, o jornalista e apresentador Ricardo Boechat, 66, vítima de acidente de helicóptero. “Eu tenho muito orgulho do homem que ele foi. Um homem honesto, correto, sincero. Fazia a verdadeira caridade, sem demonstração. Pregava esse respeito de que somos todos iguais.”
Em maio, no primeiro Dia das Mães sem Boechat, Dona Mercedes ressurgiu na mídia em áudio transmitido na Band News FM, emissora onde o filho trabalhava. A mensagem produziu lágrimas em locutores e ouvintes.
“Lembranças da nossa infância e da infância dos nossos filhos vêm à nossa mente. Beijos, abraços, presentes e a felicidade de estarmos juntos. Mas há outros grupo de mulher que, nesse dia, o coração está mais apertado. São aquelas que quando passam escutam murmurar: ‘Coitadas, perderam o filho’. Isso não é verdade, não perderam nada. Elas tiveram um filho, que permanece em sua mente e em seu coração. Viveram com eles sonhos, esperanças, frustrações, com os quais riram e choraram. Que se fizeram homens e mulheres. Sim, são parte de nós. Não importa em que parte do caminho eles deixaram de percorrer, mas nos deixaram a sua presença. Devemos festejar essa data, pois sempre seremos mães.”
No final de outubro, o País acompanhou o drama vivido pela atriz Hilda Rebello, 95 anos, mãe do ator e diretor de novelas Jorge Fernando. Ele morreu de problemas cardíacos aos 64. No velório, amigos famosos tentaram consolar dona Hilda. Dias depois, a doce senhora apareceu numa rede social do filho para confortar os fãs. “Bom dia pelo Jorge Fernando. Ele hoje não está aqui, mas eles todos os dias dava bom dia a todos. É o que eu estou fazendo por ele. Bom dia, sejam felizes. Agradeço a Deus por ter vocês como amigos.”
Agora chegou a vez de dona Maria do Céu passar por semelhante dor. Em setembro, ela ganhou de Gugu Liberato uma festa para comemorar seus 90 anos. O evento familiar foi realizado em Portugal, terra natal da mãe do apresentador. Dois meses depois, dona Maria precisou viajar a Orlando, na Flórida, para se despedir de seu caçula, inerte num leito de UTI. Augusto Liberato tinha 60 anos e morreu em consequência de traumatismo na cabeça após uma queda acidental em casa.
Mais uma vez, os brasileiros vão testemunhar na cobertura televisiva do velório e enterro de um famoso a aflição de uma mãe de cabelos brancos enlutada. Uma imagem que entristece a todos nós. Um acontecimento que nenhum jornalista gostaria de reportar. Tira-se um único proveito de episódios como esse: o resgate da empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro a fim de compreendê-lo. Em tempos de exagerado individualismo e execrável intolerância, como o que vivemos agora, isso é quase um alento diante da consternação suscitada pela morte.