Uma entrevista ao Fantástico, na qual criticou nominalmente o presidente Jair Bolsonaro, culminou na demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. O 'sincericídio' do ortopedista que liderou a força-tarefa contra a pandemia de covid-19 no País encerrou uma das maiores brigas midiáticas de poder já vistas no Brasil redemocratizado. Ele falou demais por ter a vaidade atiçada pelas câmeras da Globo ou foi uma estratégia para acelerar sua saída do governo? A história responderá.
Na memória de quem gosta de televisão há o registro de outros casos de gente poderosa que pagou preço alto por falar demais na TV. O então âncora do Jornal da Globo William Waack teve o contrato finalizado com a emissora carioca após o vazamento de uma gravação interna, até então não vista pelo público. O veterano esperava para entrar no ar durante cobertura da eleição presidencial americana de 2016 quando fez um comentário considerado racista. Irritado com um buzinaço na rua, em Washington, o jornalista disse a um entrevistado: “É preto, isso é coisa de preto". A repercussão bombástica suscitou o afastamento imediato da bancada do telejornal e, logo depois, seu desligamento do canal.
Em 2005, a vítima da própria língua foi Clodovil Hernandes. Na ocasião, ele fazia sucesso no comando do vespertino A Casa é Sua na RedeTV. No meio de uma gravação, o apresentador lançou comentários polêmicos a respeito da colega de emissora Luisa Mell, à época namorada do presidente do canal, Amilcare Dallevo. Clodovil disse, entre outras coisas, que a ativista pelos direitos animais terminaria seus dias como estrela de filmes pornôs. As indiscrições chegaram ao conhecimento da cúpula da empresa. Na manhã seguinte, o estilista recebeu em casa um fax com o comunicado de sua demissão. Ele nunca mais se firmou na TV. Morreu em 2009, em consequência de um acidente vascular cerebral, quando cumpria o primeiro mandato como deputado federal.
Acreditar que as câmeras do estúdio da Globo estavam desligadas foi o erro do então ministro da Fazenda Rubens Ricupero em setembro de 1994. Ele se preparava para gravar entrevista ao JG quando fez uma revelação ao jornalista Carlos Monforte: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde”. O influente ministro não imaginava que vários telespectadores capturavam a cena por antena parabólica. Divulgada, a declaração ecoou negativamente na sociedade, na imprensa e no gabinete do presidente Itamar Franco. Três dias depois, Ricupero deixou o ministério.