De repente, a introspectiva Mary Louise solta um grito para externar a dor do luto. Ela não se conforma com a morte do filho, Perry (Alexander Skarsgård).
O momento de expurgação assusta a nora Celeste (Nicole Kidman) e os dois netos. A hora do jantar ganha clima soturno.
A cena foi um dos pontos altos na dramaturgia do primeiro capítulo da segunda temporada de Big Little Lies, do canal HBO (domingos às 22h).
Meryl Streep está perfeita no papel da mulher amargurada, com delicioso humor ácido, que aparenta fragilidade enquanto tenta disfarçar astúcia e sede de vingança.
Mary Louise (nome de batismo da atriz) chegou a Monterey para abalar a calma e a cumplicidade entre as amigas Celeste, Madeline (Reese Witherspoon), Jane (Shailene Woodley), Bonnie (Zoë Kravitz) e Renata (Laura Dern). A doce avó representa perigo ao segredo que elas escondem.
Na primeira temporada, Big Little Lies destacou o conceito de sororidade, ou seja, a união das mulheres na defesa do próprio bem-estar. Agora será a vez da discórdia e do medo ressaltarem a velha rivalidade feminina.
Com a esperteza de uma vilã, Mary Louise não se engana com as aparências. Ela sabe que aquele grupo de mulheres que orbitavam em torno de seu filho possuem um lado obscuro mal disfarçado pelas roupas de grife, a maquiagem corretiva e o comportamento burguês.
Às vésperas de completar 70 anos, Meryl Streep oxigena a carreira com personagem ambígua. Dela se pode esperar o bem e o mal sem que tire do lugar seu penteado antiquado.
A grande estrela, ganhadora de 3 Oscars, agora faz parte de uma série protagonizada por mulheres (a metade delas tem mais de 50 anos, algo raro na TV e no cinema), e também escrita, produzida e dirigida por mulheres.
Juntas, acertam em cheio ao mostrar a complexidade e a intensidade da essência feminina – tão sedutora quanto aterrorizante.
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