Diariamente, cerca de 150 mil pessoas morrem no planeta. A história de vida da maioria delas morre junto. Homens e mulheres que permanecerão anônimos, sem que sua existência sirva de referência ao resto do mundo. Isso não acontecerá com Chadwick Boseman.
O ator morto aos 42 anos, em consequência de câncer colorretal, deixou sua marca. Será sempre lembrado e reverenciado como protagonista do primeiro filme de super-herói de ascendência africana do cinema norte-americano e primeiro longa do gênero indicado a Melhor Filme no Oscar.
Enquanto negros eram alvos preferenciais da violência urbana e vítimas da brutalidade de alguns policiais, Boseman aproveitava o status e a tranquilidade de quem venceu em Hollywood. Ganhou fama, sucesso, dinheiro e glamour. Mais importante: conquistou respeito.
Glória imensurável a um homem preto da Carolina do Sul, um estado com terrível histórico de segregação racial e onde hoje há crescente movimento de supremacistas brancos. Foi de uma pequena cidade daquela área, com apenas 30% de negros na população, que o filho de uma enfermeira e um operário de fábrica saiu para se tornar — anos depois e após árdua batalha — o inspirador rei de Wakanda nas telonas.
“Eu sei o que é ser um menino xingado de ‘crioulo’ por outras crianças”, contou o astro com ancestralidade em Serra Leoa, Nigéria e Guiné-Bissau. Ao invés de se deixar dominar por abatimento e revolta, ele transformou a dor em força. Investiu em sua formação artística para ter as credenciais necessárias a fim de realizar o sonho de viver da atuação. Triunfou.
Com militância coerente e agregadora, fez de sua carreira bem-sucedida, construída à base de dedicação e crença pessoal, um exemplo e um legado. Viveu menos do que gostaria, porém, teve uma vida grandiosa e inesquecível a quem aprendeu a admirá-lo. “Podemos não ter escolhido a hora, mas o momento nos escolheu”, disse o lendário ativista negro pelos direitos civis John Lewis, morto em julho. Chadwick Boseman foi, sem dúvida, um escolhido para fazer a diferença no mundo.