Uma queda da janela de seu apartamento colocou fim à vida de um dos roteiristas mais promissores da dramaturgia da Globo. O mineiro Bruno Lima Penido morreu aos 41 anos no sábado (21), no Rio de Janeiro. De acordo com o relato de amigos, ele sofria de depressão, transtorno que afeta cerca de 12 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Jornalista de formação, Penido trabalhou na Folha de S. Paulo e na GloboNews antes de começar a escrever novelas e séries. Foi um dos colaboradores de Walcyr Carrasco no sucesso Verdades Secretas, de 2015. Integrou também a equipe de roteiristas de Malhação: Viva a Diferença (2017). As duas produções foram ganhadoras do prêmio Emmy Internacional.
Era também escritor. Seu livro de estreia, Mordidas por Dentro: Poemas em Prosa para Corações Dilacerados (Editora Instante), foi aprovado no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para ser indicado a alunos do 8º e 9º anos. A notícia da morte de Bruno Lima Penido comoveu amigos e admiradores de sua obra. "Brilhante, melhor aluno", comentou uma colega da PUC-MG. "Um menino leve, educado e divertido", postou outro amigo no Instagram.
A depressão provocou a morte abrupta de grandes nomes das artes, como o escritor Ernest Hemingway, o ator Robin Williams, o roqueiro Chester Bennington, o DJ Avicci e o modelo Zombie Boy.
O blog ouviu o psicólogo Lucas Neves (@lucasnevespsi), de Belo Horizonte, para compreender melhor esse distúrbio e o possível risco associado de suicídio em tempos de quarentena e angústia por conta da pandemia do novo coronavírus. Ele é especialista em casais, famílias e grupos, e também em Psicologia da Comunicação e do Marketing.
Blog Sala de TV: Essa pandemia de covid-19 pode aumentar os casos de depressão e ansiedade? Quais dicas para manter o equilíbrio?
Lucas Neves: Sim, pode aumentar o número de ocorrências. Procure evitar pensamentos que não funcionam, que só levam o ser humano a entrar em um parafuso angustiante sem respostas, se valide o tempo todo sabendo que você está sim sendo protagonista de uma história com um desfecho muito melhor do que aquela em que você não colaborasse. Pense nas várias pessoas que ainda não desistiram de você e que mesmo que não estejam perto estão do seu lado.
Essa situação de isolamento e medo pode gerar pensamentos suicidas ou aumentar a incidência deles?
Antes do ato do suicídio devemos pensar em planejamento e pensamentos de suicídio, isso sim é mensurável. Acredito que os pensamentos de menos valia podem sim evoluir para pensamentos autodestrutivos e que o isolamento, infelizmente, colabora para esse cenário. Mas devido à evolução da tecnologia podemos sempre contar com serviços online de amparo, como a psicoterapia ou até mesmo o CVV (Centro de Valorização da Vida), que hoje mais do que nunca se mostram importantes nesse momento tão caótico. (Nota do editor: o número gratuito do CVV é 188. Há atendimento também por chat por meio do cvv.org.br.)
Sempre que alguém comete suicídio, pensamos se aquela morte não poderia ter sido evitada. Como ajudar quem está em depressão e com pensamentos suicidas?
Primeiramente valide a pessoa não no ato do suicídio em si, mas em todas as qualidades que estão para além do momento, toda a sua história. No caso de quem tentou dar fim à própria vida, procure ampará-la da melhor maneira possível. Se ela ainda não faz um tratamento a instigue a procurar ajuda especializada, procure junto com ela. Ser empático nesse momento pode ser uma das tarefas mais difíceis a se fazer, mas quem conseguir estará 'blindado' para qualquer outro momento.
O isolamento social é uma situação nova para os brasileiros. Pode afetar a saúde mental?
Sim. O isolamento social no cenário atual, apesar de ser por um bem maior, pode afetar nossa saúde mental a partir do momento de que é um impedimento de contato, ativando vários gatilhos de pensamentos de solidão e desamparo. É normal se sentir sozinho e triste por curto período, mas se isso se estende por um tempo maior o corpo fala através de sinais. São eles o pensamento de menos valia, a taquicardia, a hiperventilação, a prostração, entre outros.
Como podemos controlar essa sensação de incerteza em relação ao futuro?
Vivendo um dia de cada vez, uma semana de cada vez, dentro das possibilidades e limites impostos. Criando novas estratégias e desafios diários, como por exemplo terminar aquele livro, ver aquele filme, estudar algo. Se temos tempo, vamos utilizá-lo para o bem.