MTV prova que o sexo gay ainda é um tabu na televisão

Corte de cena íntima entre dois participantes do De Férias com o Ex desconstrói a imagem progressista da emissora

30 jun 2020 - 10h37
(atualizado às 10h37)

Quando se pensa em emissora de TV liberal e sem preconceitos, a MTV vem à cabeça instantaneamente. Ou vinha. A versão brasileira do canal americano exibiu um dos primeiros beijos gays da televisão nacional no programa Beija Sapo, apresentado por Daniella Cicarelli em 2006, poucos meses depois de a Globo censurar o beijo na boca entre os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) no desfecho da novela América.

Jarlles e Rafael: a expectativa pelo ápice da participação dos dois virou decepção
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Foto: Instagram (@jarllesgois e @rafavieiravoz) / Reprodução

Agora, em 2020, em pleno Mês do Orgulho LGBTQIA+, a mesma MTV provoca estranhamento e revolta ao cortar uma cena de sexo entre dois homens no reality de pegação De Férias com o Ex, sendo que mostra em detalhes (e closes) as sequências íntimas de casais héteros. Jarlles Gois chegou a anunciar em uma rede social a exibição de sua relação sexual com Rafael Vieira. “Ouvi dizer por aí que terá cenas de sexo gay na TV hoje… Sim, gays também fazem sexo e isso é normal”, escreveu o participante. Na hora H, a edição apenas sugeriu que algo aconteceu sob os lençóis.

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Sim, há enorme diferença entre transmitir um beijo e uma transa. Explicitar o sexo gay seria ousado e inovador até mesmo para a supostamente moderna MTV. O problema está na maneira como a situação foi administrada. O canal poderia ter recorrido à sutileza, 'mostrar sem mostrar tudo'. Afinal, ninguém esperava ver um pornô do XVídeos, e sim dois homens trocando beijos e carinhos, como o programa faz quando um homem e uma mulher vão para a cama.

Muitas vezes, aquilo que é apenas sugerido se torna mais interessante (e excitante) do que o superexposto. A MTV preferiu encaretar em um momento potencialmente midiático de sua atração mais apimentada. Ao simplesmente omitir o sexo gay no episódio (um fato que era de conhecimento público e previamente anunciado pela imprensa), a emissora infringe a inteligência do telespectador, além de gerar frustração. Prejudica a própria imagem de TV progressista e pró-LGBTQIA+ no meio da onda neoconservadora no País.

Contestado, o canal cometeu um segundo erro: não quis se pronunciar a respeito da acusação de preconceito. Neste caso, o silêncio é mais do que uma falha de comunicação — se torna desprezo ao público ávido por uma explicação coerente. Enquanto marcas poderosas como Netflix e Ambev promovem o respeito à diversidade sexual e de gênero em históricos comerciais no horário nobre da TV, a MTV sinaliza retrocesso. O sexo entre homens é aceito em séries e outras produções de ficção televisiva, porém, continua a ser um tabu no contexto da realidade nua e crua.

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