Na sexta-feira (23), Jair Bolsonaro saiu do roteiro oficial em Manaus para fazer visita não programada a Sikêra Jr. na sede da emissora A Crítica, que já foi afiliada da Record TV e hoje tem programação própria, utilizando alguns conteúdos da RedeTV. A entrevista ao vivo teve duração de 40 minutos.
Em momento inusitado, o personagem Jumento, que faz parte da equipe de estúdio do programa ‘Alerta Especial’, foi até o presidente para cumprimentá-lo. Bolsonaro se levantou, deu a mão ao rapaz fantasiado com cabeça de animal, o abraçou e então engrossou a voz a fim de imitar o tom grave do ex-presidente Lula.
“Companheiro, companheiro”, disse Bolsonaro, repetindo o bordão do petista, com dedo indicando o Jumento e rindo alto. “Em 2002 estamos juntos, hein?”, afirmou. Bolsonaro quis dizer “2022”, ano da próxima eleição à Presidência. Ele e Lula despontam até agora como principais candidatos.
Sikêra fez uma observação. “Presidente, se prepare, essa vai ser a foto (na imprensa). ‘Presidente conhece o jumento’.” Bolsonaro justificou a irreverência. “Estou dando uma descontraída aqui porque, pô... Não queira a minha cadeira, pelo amor de Deus. Eu quero o teu bem.”
O momento em que Bolsonaro associa uma cabeça de jumento ao ex-presidente Lula começa em 12:12 da entrevista no ‘Alerta Especial’
Quando outro funcionário do canal foi repor água nas taças de Bolsonaro e Sikêra, o presidente comentou a respeito do rapaz com cabelos presos com elástico. “Sei não, hein, sei não”, disse, rindo. “Queima ou não queima? Com aquele rabinho ali, olha o rabinho dele.”
Adiante, o presidente disse que Sikêra estava “gordo”. “Eu não estou gordo”, respondeu o apresentador. “Você tá gostoso”, corrigiu Bolsonaro, rindo. O âncora não perdeu a chance de fazer piada. “Queima ou não queima?”, brincou. O presidente achou graça. “Descontei lindo”, festejou Sikêra.
“Eu ia retrucar aqui, mas vou ficar na minha”, avisou Bolsonaro. “O que é gostoso, é comível. Queima ou não queima?”, debochou em seguida. “Presidente, vamos manter o nível da entrevista. O senhor está passando dos limites”, avisou Sikêra, ainda debochado. “Quando o senhor sair, como vai ficar a minha moral?”
Em momento sério, Bolsonaro reclamou do tratamento recebido dos meios de comunicação e justificou as aglomerações que produz. “Eu converso com o povo. Amanhã vou estar na rua de novo. A imprensa, ao invés de me acompanhar, para falar o que está acontecendo, quando acompanhava, no passado, era para falar ‘tá sem máscara’. Tá de sacanagem?”
O presidente insistiu no tema. “Eu tô no meio do povo, meu Deus do céu. Eu não posso ficar preso no Palácio da Alvorada, comendo bem, tem tudo lá dentro, e vendo o povo lá fora se virar. Não posso fazer isso. Tô sempre no meio do povo.”
Bolsonaro prevê para “novembro, dezembro” o lançamento da “vacina brasileira”, anunciada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes. O imunizante está em desenvolvimento na Universidade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), com tecnologia 100% nacional.
O presidente afirma ignorar tentativas de lobby. “De vez em quando, o cara fura o esquema lá (de segurança) e vem falar comigo. ‘Ó, tem uma vacina muito boa, me arranja uma audiência com o ministro da Saúde’. Entra por aqui, sai por aqui. O que não falta em Brasília é lobista em cima de vacina.”
Bolsonaro falou de assunto polêmico: a possível ação das Forças Armadas na pandemia. “Se tivermos problema, nós temos o plano de como entrar em campo”, explicou. “O nosso Exército, as nossas Forças Armadas, se precisar, iremos para as ruas. Não para manter o povo dentro de casa, mas para restabelecer todo o artigo 5° da Constituição”, anunciou.
“E se eu decretar isso, vai ser cumprido. Direito de ir e vir, acabar com essa covardia de toque de recolher. Direito ao trabalho. Liberdade religiosa e de culto. Para cumprir tudo aquilo que está sendo descumprido por parte de alguns governadores, de alguns poucos prefeitos. Atrapalha toda a sociedade. Um poder excessivo que lamentavelmente o Supremo Tribunal Federal delegou.”
Jair Bolsonaro e Sikêra Jr. conversaram também sobre um problema de saúde enfrentado por ambos: o uso de uma bolsa de colostomia ao longo de meses. O presidente precisou do acessório que serve para armazenar fezes em consequência do atentado a faca que feriu seu abdômen, em 2018.
“No começo você fica cheio de dedos. Depois entra na normalidade. É barra pesada”, comentou Bolsonaro sobre o manuseio. Sikêra foi obrigado a usar a bolsa em razão de uma cirurgia para retirada de um pedaço de prótese dentária que ele havia engolido acidentalmente.