Nasce um novelão: Órfãos da Terra estreia politizada

Nova trama da Globo humaniza a massa de refugiados e exalta a importância do barulho feito pelas feministas

3 abr 2019 - 10h13

Em contraponto à banalização da guerra da Síria, que já não tem espaço relevante na mídia internacional nem suscita a mesma comoção pública, o primeiro capítulo de Órfãos da Terra, nova produção das 18h30 da Globo, ressaltou a tragédia humanitária do conflito que se arrasta desde 2011.

A família da protagonista Laila (Julia Dalavia) começa sua trajetória dramatúrgica na festa de aniversário do caçula, na Síria, quando é alvo de um ataque a bomba.

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Por consequência, enfrenta a escassez de recursos, toma a difícil decisão de abandonar o lugar de origem na tentativa de escapar da morte e caminha por semanas até um campo de refugiados no vizinho Líbano – encenação das peregrinações reais mostradas tantas vezes nos telejornais.

A família Faiek: saída desesperadora da Síria para não morrer sob os bombardeios
A família Faiek: saída desesperadora da Síria para não morrer sob os bombardeios
Foto: Paulo Belote/TV Globo / Divulgação

As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid foram hábeis em mostrar que os refugiados não são uma ameaça ao estilo de vida da civilização ocidental, como pensam alguns governantes, e sim vítimas de uma situação degradante. Gente que imigra com um único objetivo: sobreviver.

Hoje são os sírios. Antes, os haitianos. Muitas décadas atrás, italianos, japoneses, judeus... Cada povo teve sua própria razão para partir rumo ao Brasil, a terra que um dia já foi símbolo de tolerância e convivência pacífica entre os diferentes.

No núcleo árabe-paulistano, chefiado pela imigrante síria Rania (Eliane Giardini), a discussão na estreia de Órfãos da Terra girou em torno do feminismo.

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Enquanto Camila (Anaju Dorigon) demonstra desprezo pelo discurso de empoderamento das mulheres, sua sobrinha Cibele (Guilhermina Libanio) exibe os seios em um protesto contra o assédio sexual e a objetificação do corpo feminino. Gorda, ela faz da própria silhueta um ato político contra o machismo, o sexismo e o padrão de beleza perfeita.

Jamil (Renato Góes) e Laila (Julia Dalavia): romance iniciado com troca de olhares que dispensou palavras no primeiro capítulo
Foto: Paulo Belote/TV Globo / Divulgação

O casal principal da novela, Laila e Jamil (Renato Góes), também luta contra conceitos arcaicos. Entre as quais, a submissão autodestrutiva do empregado diante do empregador (no caso, o sheik-vilão Aziz, interpretado com destreza por Herson Capri, que obriga o rapaz a assumir uma morte cometida por ele).

Na última cena, os dois jovens se conhecem a partir de uma intensa troca de olhares. O mais eficiente dos clichês marcou o final de uma estreia empolgante, com cenários grandiosos, bons efeitos especiais, interpretações corretas, drama convincente e um frescor bem-vindo, após longa sequência de novelas com ambientação convencional.

Órfãos da Terra começou bem: entregou o que prometia nas chamadas ao longo das últimas semanas: entretenimento bem embalado a quem busca um tempo de escapismo no início da noite.

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