No Brasil, cerca de 12 milhões de pessoas sofrem de depressão. No planeta, o número passa de 350 milhões.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, até o final de 2020, a depressão será a doença mental mais incapacitante. Muitos famosos já enfrentaram o problema. Outros ainda lutam contra os sintomas. Entre eles, Lucas Lucco, Adriana Esteves, Bruna Marquezine, Deborah Secco e Pedro Bial.
O cantor paulista Nattan também viveu esse drama. Vítima de abuso sexual na infância e intolerância por ser gay, chegou a tomar overdose de remédios com a intenção de morrer.
Hoje está recuperado e usa sua arte para conscientizar as pessoas a respeito da importância de tratar corretamente a depressão e prevenir o suicídio.
Nattan lançou o clipe da canção O Mergulho. A letra destaca a luta interna para se autoconhecer, redescobrir a vida e ser feliz.
“Preciso ressignificar a minha história. Não contar apenas a parte infeliz. Houve uma mudança positiva”, explica o artista, de 30 anos.
No vídeo da música há tradução em libras a fim de chamar a atenção para a cultura dos surdos. A cantora Milla, ex-competidora no The Voice Brasil, faz participação especial na gravação.
O cantor e ativista conversou com o blog:
Como a música surgiu em sua vida?
Foi quando eu era criança. Nasci em um berço evangélico. A igreja que minha família frequentava sempre teve um louvor forte, banda com muitos instrumentos e músicos. Nos cultos, a hora de louvar sempre mexia bastante com minha sensibilidade. Por isso, a música gospel foi a primeira grande influência. Hoje, são os ritmos da Bahia. Acompanho especialmente os artistas que defendem questões sociais, como Daniela Mercury, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Margareth Menezes, Ivete Sangalo. Eu também admiro Anitta e acho a Iza fantástica.
Quando a depressão se manifestou?
Foi quando eu ainda era muito pequeno. Sofri abuso sexual por parte de um pastor evangélico e as consequências foram terríveis. Contei para pessoas importantes para mim e elas não acreditaram. Isso fez com que eu me fechasse emocionalmente. Mais tarde, percebi que era homossexual. Essa condição era condenada na igreja. Achavam que eu estava sob o domínio de demônios. Faziam orações e até exorcismos. É horrível ouvir que a sua família te ama, mas não te aceita. Que a sua igreja te ama, mas também não te aceita. Eu afundei em mim mesmo, buscando a cura, a libertação. Foi um martírio. Eu não me aceitava, era doloroso. Por ser gay, sofri bullying na escola e todos os amigos heterossexuais se afastaram. Tudo isso gerou um baque enorme. A depressão foi uma consequência disso tudo.
Chegou a tentar o suicídio?
Sim, cheguei. A depressão fez com que eu pensasse o tempo todo em morrer, não em viver. Naquela época, não conseguia enxergar futuro para mim. Eu só queria acabar com aquela dor. Cheguei ao limite no dia em que contei minha história para algumas pessoas e elas insinuaram que eu não deveria me colocar como vítima. Aquilo serviu como um gatilho. Entrei no meu quarto, deitei e tomei remédios de tarja preta. Mandei uma mensagem para minha melhor amiga, Rebeca, mas não comentei nada sobre o suicídio. Ela, que é médica, percebeu que havia algo errado e mobilizou o mundo. Meu pai chegou em casa e me levou ao hospital. Depois, ao acordar e cair na real de que continuava vivo, eu quis mudar completamente a minha vida.
Acha que a TV e a mídia em geral deveriam conscientizar mais o público a respeito da depressão?
Os veículos de comunicação precisam passar mais informações sobre a prevenção. Cerca de oitocentas mil pessoas cometem suicídio a cada ano. Por que esse assunto não está sendo discutido em todos os lugares? A mídia precisa ajudar a combater a depressão, que é o mal do século. A imprensa deve falar mais também sobre abuso sexual.
Já sabia libras? Por que usar a linguagem no clipe?
Quando era da igreja, traduzia o culto para os surdos. Eu amava. A comunidade dos deficientes auditivos é carente. A maioria das pessoas acha que não consegue se comunicar com eles por não saber libras. Mas qualquer contato é importante e necessário. Para o clipe, um tradutor me ajudou.
Como aconteceu a participação de Milla na gravação da música e no clipe?
Milla é um anjo. Ela participou do The Voice Brasil e eu a conhecei por meio de amigos. Quando a convidei, topou na hora. Entendeu a importância desse trabalho para mim. Só tenho que manifestar gratidão a ela.
Como está sua saúde mental hoje?
Estou bem. É um prazer falar isso. Nunca imaginei que diria isso em uma entrevista, mas realmente estou muito bem. Estou em paz, consciente, me respeito, me valorizo, cuido de mim, olho para a minha alma. Quero viver tudo o que não vivi, quero ser feliz sempre. Não preciso tomar nenhuma medicação. Faço terapia uma vez por semana. Quando a gente sai da depressão, tem sempre que ficar em alerta. Ela está sempre à espera de uma oportunidade para voltar.
Qual sua mensagem a quem enfrenta neste momento a depressão?
Eu sei que é uma dor imensurável na alma. Sei o que é querer morrer, não ver nenhuma possibilidade positiva. Mas isso, quem diz, é a depressão. Gosto de fazer uma analogia com o escorpião. A picada dele pode ser fatal, por causa do veneno, mas, ao mesmo tempo, o escorpião tem o antídoto dentro dele. Em nós, é a mesma coisa. Onde há o veneno, que é a depressão, existe também o remédio. A gente precisa acessar esse antídoto. A cura da depressão está dentro de nós, na nossa alma. Acredite que dá para sair dessa prisão e ser feliz.