No último papel, Chadwick comove ao falar de vida e morte

Atuação visceral como músico desiludido em ‘A Voz Suprema do Blues’ pode render Oscar póstumo ao ator morto por câncer

25 jan 2021 - 10h42
(atualizado às 10h43)

Atenção: este texto contém spoilers.

"A vida é uma merda", diz o músico Levee em cena tensa de ‘A Voz Suprema do Blues’. “A morte? A morte tem algum estilo. A morte vai chutar seu traseiro e fazer você desejar nunca ter nascido. A morte é má. Mas você pode governar sobre a vida. A vida não é nada".

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Em seu último trabalho, disponível na Netflix, Chadwick Boseman interpreta um homem no fio da navalha: assombrado pelo passado e atormentado pelo presente, traumatizado por uma morte trágica e na iminência de ter as próprias mãos sujas de sangue.

O trompetista da banda de Ma Rainey (Viola Davis), a ‘mãe do Blues’, pulsa amargura e ódio. Tenta se iludir com suas composições inovadoras: acredita que irão revolucionar a música daquele final da década de 1920, tirá-lo do anonimato e obrigar os brancos a respeitá-lo. Logo a esperança se despedaça.

Mundialmente famoso por estrelar Pantera Negra’ (2018), Chadwick Boseman prova sua força dramática em ‘A Voz Suprema do Blues'
Mundialmente famoso por estrelar Pantera Negra’ (2018), Chadwick Boseman prova sua força dramática em ‘A Voz Suprema do Blues'
Foto: Divulgação

Em uma sequência avassaladora, na qual Chadwick tem um monólogo de alguns minutos, o personagem narra como o racismo destruiu sua família e decretou a infelicidade eterna que carrega consigo. O ator se entrega ao drama de maneira impressionante no filme com cara de teatro filmado.

Outro momento apresenta a revolta espiritual de Levee por não ter testemunhado justiça divina contra nenhum racista. “Deus nunca ouviu as preces dos negros. Ele joga todas no lixo”, afirma, para horror de seus colegas cristãos. “Deus não se importa com os negros. Na verdade, os odeia".

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As filmagens de ‘A Voz Suprema do Blues’ aconteceram de julho a agosto de 2019. Chadwick já enfrentava o agravamento do câncer de cólon que o matou um ano depois, aos 43 anos. Nota-se o efeito devastador da doença na magreza excessiva e no envelhecimento precoce do ator.

O ator ao lado de Viola Davis (Ma Rainey) no último filme concluído de sua carreira
Foto: Divulgação

A performance marcada por dor e fúria rendeu elogios dos críticos de cinema e a certeza de indicação a prêmios. Fala-se em nomeação ao Oscar de coadjuvante. A 93ª cerimônia de entrega dos Academy Awards está marcada para 25 de abril. Ainda não decidiram se terá a presença de artistas ou será virtual por conta da pandemia de covid-19.

Caso a indicação se confirme e Chadwick Boseman vença, ele seria o terceiro ator a ganhar a estatueta após a morte. O primeiro foi Peter Finch, em 1977, como ator principal pelo papel de um âncora de TV enlouquecido em ‘Rede de Intrigas’. O desempenho como o vilão Coringa em deu a Heath Ledger a estatueta dourada de coadjuvante por ‘Cavaleiro das Trevas’, em 2009.

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