“No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, disse certa vez o maestro e pensador Tom Jobim. A conclusão foi baseada em experiência particular: aclamado mundo afora, ele não se sentia devidamente prestigiado na terra onde nasceu e com a qual tanto contribuiu com suas composições e interpretações.
Pode parecer arrogância ou vitimismo, mas é a verdade vivenciada e relatada por outros artistas brasileiros de fama internacional. No exterior, o talento recebe aplausos entusiásticos enquanto no Brasil há indisfarçável tentativa de minimizar o êxito de quem ousa se sobressair aos compatriotas.
A inclusão de Sonia Braga entre os 25 melhores atores das primeiras duas décadas do Século 21 em eleição do ‘The New York Times’, jornal mais prestigiado do planeta, ressalta essa realidade. Ao relembrar a atuação em ‘Aquarius’, do diretor Kleber Mendonça, uma das críticas da publicação, Manohla Dargis, definiu a atriz brasileira como “lenda” do cinema. Disse ainda que ela continua “majestosa” com suas “rugas visíveis”.
O jornalista também especializado na sétima arte A. O. Scott disse que a artista possui “autoconfiança absoluta” que a faz defender suas personagens sem se importar com o julgamento alheio. Ao analisar a performance dela em ‘Bacurau’, do mesmo cineasta, onde vive uma médica rústica e alcoólatra, o crítico destaca sua “profundidade” e “graça” em um papel sem qualquer glamour.
Vista durante anos mais como sexy symbol do que atriz visceral, Sonia Braga conquistou mais credibilidade e reconhecimento na maturidade. Mostrou incrível força dramática em papéis no cinema e na televisão dos Estados Unidos. O trabalho mais recente, em ‘Fátima’, no qual interpreta Irmã Lucia, uma das videntes de Nossa Senhora em Portugal, rendeu inúmeros elogios na imprensa.
Em entrevistas, a atriz disse que gostaria de gravar e filmar mais no Brasil. Faltam convites. Muitos diretores a consideram ‘cara demais’ ou ‘hollywoodiana em excesso’. A fama mundial, nesse caso, se torna um obstáculo. Outros criadores temem ser ofuscados pelo brilho da artista, que inevitavelmente rouba a cena no set e nos tapetes vermelhos.
Ao invés de ser valorizada em seu País, a estrela é frequentemente esnobada. O brasileiro em geral adora bajular gringos, porém se mostra incomodado com os conterrâneos que se destacam no exterior. "A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo", escreveu o invejado Oscar Wilde. Sorte dos americanos que veem Sonia Braga com assiduidade na TV e nas telonas.