Novela debocha de fãs volúveis, caçadores de fama e iludidos

Participação de Anitta em Amor de Mãe ressalta armadilhas do universo das celebridades

3 mar 2020 - 09h42
(atualizado às 09h50)

Numa cena de 'Amor de Mãe', a sensual Sabrina (Anitta) se derrete por Ryan (Thiago Martins), cantor catapultado ao sucesso após uma serenata viralizar na internet. Ela insiste para o namorado atender a um grupo de fãs eufóricas. Mas as garotas que abordavam o filho de Lurdes (Regina Casé) o abandonam assim que avistam Luan Santana. "Essa galera é muito doida. Querem só saber de quem é mais famoso", constata Ryan, decepcionado com a infidelidade das admiradoras.

Anitta interpretou uma típica garota fútil interessada apenas em fama fácil
Anitta interpretou uma típica garota fútil interessada apenas em fama fácil
Foto: Reprodução/GShow

Em sequência posterior, Sabrina é quem o surpreende. Revelando-se uma alpinista social, ela avisa que aceitou o convite de Luan Santana para jantar — e sai da suíte do hotel levando suas malas. A paixão por Ryan acabou assim que surgiu um artista com mais status. "Gato, você é muito low profile, né", explica. "Não gosta de aparecer, não faz presença em festa. Eu gosto de foco, seguidores, capa de revista."

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Sabrina representa um tipo comum nos bastidores do show business: o caçador de fama. Essas pessoas ambiciosas se agarram a qualquer oportunidade de sair do anonimato. Buscam a superexposição na mídia. Quanto mais flashes, melhor. E não titubeiam em passar por cima de quem for para atingir seu objetivo. O alvo preferencial são jovens artistas em ascensão deslumbrados com a fama recente, assim como Ryan. Ingênuos, viram uma presa fácil na mira de quem é craque em manipulação.

A escolha de Anitta foi acertada. A funkeira correu atrás da fama e chegou lá. Gosta tanto de se expor que os detalhes da vida privada (como as incontáveis conquistas amorosas e os ininterruptos procedimentos estéticos) às vezes ofuscam os feitos de sua carreira. Há quase 150 anos, o dramaturgo irlandês Oscar Wilde refletiu a respeito dessa obsessão por autopromoção. "Só há uma coisa no mundo pior do que despertar rumores. É não despertar rumor algum."

A ascensão das redes sociais multiplicou o número de pessoas obcecadas em se tornar uma celebridade. Antigamente, os meninos sonharam ser jogadores de futebol, bombeiros, astronautas... As meninas se viam como professoras, bailarinas, enfermeiras. Hoje o que se quer é apenas ser famoso. A popularidade por si só. Qualquer  talento parece valer menos do que um número recorde de curtidas em uma foto chamativa. Sob os holofotes e na tela dos smartphones, o mundo realmente mudou. Talvez para pior.

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