O novelão das 21h da Globo é, tradicionalmente, a atração mais vista da televisão brasileira.
Mas na segunda-feira, dia 10, O Sétimo Guardião marcou 28 pontos de média – ficou atrás do Jornal Nacional, com um dos piores índices desde a estreia, há um mês.
O folhetim de Aguinaldo Silva passa despercebido no boca a boca nas ruas e no efervescente universo das redes sociais.
Essa indiferença dos noveleiros reflete um dos principais problemas da produção: a falta de personagens cativantes.
Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa eram mais interessantes nos comerciais da Renault do que na pele de Gabriel e Luz, o casal insulso de conduz a trama principal.
Sempre preocupados, confusos ou tristonhos, os dois não convencem a respeito da força sobrenatural de seu amor. Como torcer por quem está sempre pra baixo?
Vilões ardilosos e sarcásticos costumam roubar a cena, engolir os heróis e ganhar a cumplicidade do público.
Em O Sétimo Guardião, os maquiavélicos apresentam vilania burocrática, sem a vivacidade que se espera de um antagonista.
Lília Cabral defende sua Valentina com unhas, dentes e salto alto, porém, a dondoca apenas irrita, não fascina.
O telespectador se acostumou às vilãs sedutoras e satíricas de Aguinaldo Silva, como a conservadora virgem Cora (Marjorie Estiano/Drica Moraes) de Império, a deliciosamente esnobe Tereza (Christiane Torloni) de Fina Estampa e a insuperável ‘raposa felpuda’ Nazaré (Renata Sorrah) de Senhora do Destino. Valentina está distante dessas peçonhentas encantadoras.
Laura, papel de Yanna Lavigne, tem potencial de ser a nova Maria Eduarda (Gabriela Duarte), a detestável de Por Amor, que passou a representar todas as chatas das novelas.
A personagem até possui motivos para a obsessão por vingança contra o noivo que a abandonou, mas se mostra tão mimada e sacal que desperta antipatia irreversível.
Há ainda Olavo, o magnata sem escrúpulos. Tony Ramos tenta o que pode – mas o texto não o deixa fazer muito. É um homem apenas ambicioso e arrogante, sem nuances. Em algumas cenas, o personagem parece não ter função dramatúrgica. Está ali, mas não faria falta se não estivesse.
Outros dois malvados assumidos fazem parte desse time. Um deles é Sampaio, vivido por Marcello Novaes, o pau-mandado de Valentina.
Um tipo aborrecido, sem o vigor que se espera de um crápula capaz de ofuscar entediantes heróis. E, por fim, o bad boy Eurico Jr. (José Loreto): um chato, e nada mais.
Em O Sétimo Guardião, quase todo mundo – até os mocinhos – parecem infelizes. Fica difícil para o brasileiro que busca fugir da realidade sufocante se empolgar com tamanho acabrunhamento na TV.
Nessa lista de personagens desagradáveis poderia ser incluída a guardiã da família tradicional e dos bons costumes, Mirtes.
Contudo, trata-se de uma das melhores criações do autor de O Sétimo Guardião. Ainda que cheia de clichês, é uma personagem necessária no atual momento do Brasil.
Ela suscita crítica social ao recrudescimento do falso moralismo no País. A atriz Elizabeth Savalla está muito bem em cena.
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