Diana Spencer morreu em consequência de um acidente de carro em Paris, na madrugada de 31 de agosto de 1997. Tinha 36 anos. Divorciada de Charles, não era mais tratada como futura rainha, mas continuava a ser o maior ícone de popularidade entre os súditos da monarquia britânica. Sua tragédia produziu catarse em um povo famoso por não demonstrar emoções.
O impacto foi tamanho que houve crescente cobrança popular para que a rainha Elizabeth se manifestasse. Ela estava com a maior parte da família — incluindo os netos William e Harry — passando as férias de verão no Castelo de Balmoral, na Escócia. Nos dias seguintes à tragédia, a matriarca da dinastia Windsor se manteve calada. Passou a impressão de frieza.
Toda a imprensa, dos tabloides de fofocas aos jornais mais respeitados, ecoou o questionamento do povo: onde está a rainha? Introspectiva, Elizabeth optou pela discrição quando todos queriam vê-la lamuriar. Sua Majestade disse a Charles que o funeral de Diana deveria ser um evento privado, e não de Estado, já que a princesa não tinha mais o tratamento de "alteza real".
Demorou a perceber que a mãe de seus netos era amada verdadeiramente por milhões de homens e mulheres, jovens e adultos, muito além das fronteiras do Reino Unido. Precisou ser pressionada pelo então Primeiro-Ministro Tony Blair para sair do isolamento, encarar a multidão e usar o poder da televisão para minimizar a crise de imagem de seu reinado.
Quase uma semana depois do desastre no túnel sob a Ponte de l’Alma, a soberana finalmente cedeu. Na sexta-feira, 5 de setembro, posicionou-se diante de janelões do Chinese Dining Room, no lado leste da fachada do Palácio de Buckingham. Seu pronunciamento à nação, transmitido pelas principais emissoras de TV, começou pontualmente às 18h. De vestido preto e joias com pérolas, Elizabeth falou por 3 minutos e 6 segundos em tom monocórdico. Usou óculos de grau para ler o texto no teleprompter.
Esse episódio midiático da história foi retratado no filme ‘A Rainha’, do diretor Stephen Frears, lançado em 2007, e que rendeu o Oscar de Melhor Atriz a Helen Mirren pela atuação como Elizabeth II. Será também abordado na sexta temporada da série ‘The Crown’, da Netflix, prevista para 2023. O blog reproduz o discurso sentimental que a rainha mais famosa do planeta, hoje com 94 anos e ainda firme no trono, fez a uma audiência de aproximadamente 1 bilhão de pessoas.
“Desde as notícias terríveis do último domingo, vimos, em toda a Grã-Bretanha e em todo o mundo, uma expressão esmagadora de tristeza pela morte de Diana.
Todos nós temos tentado, de diferentes maneiras, lidar com a situação. Não é fácil expressar um sentimento de perda, uma vez que o choque inicial muitas vezes é sucedido por uma mistura de outros sentimentos: descrença, incompreensão, raiva e preocupação com aqueles que permanecem. Todos nós sentimos essas emoções nesses últimos dias. Portanto, o que eu digo a você agora, como sua rainha e avó, digo de coração.
Em primeiro lugar, quero prestar homenagem a Diana pessoalmente. Ela era um ser humano excepcional e talentoso. Nos bons e nos maus momentos, ela nunca perdeu a capacidade de sorrir, nem de inspirar os outros com seu calor e gentileza. Eu a admirava e respeitava por sua energia e compromisso com os outros e, especialmente, por sua devoção aos dois filhos. Esta semana em Balmoral, todos nós temos tentado ajudar William e Harry a aceitar a perda devastadora que eles e o resto de nós sofremos.
Ninguém que conheceu Diana jamais a esquecerá. Milhões de outras pessoas que nunca a conheceram, mas sentiram que a conheciam, se lembrarão dela. Eu, pelo menos, acredito que há lições a serem tiradas de sua vida e da reação extraordinária e comovente à sua morte. Compartilho sua determinação de guardar a memória dela.
Esta também é uma oportunidade para mim, em nome de minha família, e especialmente do Príncipe Charles e William e Harry, de agradecer a todos vocês que trouxeram flores, enviaram mensagens e prestaram seus respeitos de tantas maneiras a uma pessoa notável. Esses atos de bondade têm sido uma grande fonte de ajuda e conforto.
Nossos pensamentos estão também com a família de Diana e as famílias daqueles que morreram com ela. Sei que também eles se fortaleceram com o que aconteceu desde o último fim de semana, enquanto buscam curar sua tristeza e depois enfrentar o futuro sem um ente querido.
Espero que amanhã possamos todos, onde quer que estejamos, expressar nossa tristeza pela perda de Diana e gratidão por sua vida tão curta. É uma chance de mostrar ao mundo inteiro a nação britânica unida em dor e respeito.
Que aqueles que morreram descansem em paz. E que possamos, cada um de nós, agradecer a Deus por alguém que fez muitas, muitas pessoas felizes.”