O dia que a rainha Elizabeth chorou pode inspirar Bolsonaro

Episódio da série 'The Crown' mostra a reação solidária da monarca a uma crise humanitária após ser chamada de insensível

30 abr 2020 - 10h36
(atualizado às 10h37)

Alguém se lembra de ter visto a rainha Elizabeth, 94 anos, chorar em público? A soberana do Reino Unido segue à risca a regra número 1 do protocolo real: jamais demonstrar emoção em frente dos súbitos e das câmeras. Uma das raras vezes em que ela se permitiu verter lágrimas diante de testemunhas foi em 29 de outubro de 1966.

Líderes como a rainha Elizabeth e o presidente Bolsonaro dependem de uma imagem pública positiva para assegurar a manutenção do poder ...
Líderes como a rainha Elizabeth e o presidente Bolsonaro dependem de uma imagem pública positiva para assegurar a manutenção do poder ...
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV (Fotos: Divulgação / Royal Family e Divulgação / Presidência da República)

Naquele sábado frio de outono, a matriarca dos Windsors visitou a vila de Aberfan, no País de Gales, oito dias após uma avalanche de dejetos de uma mina matar 144 moradores, sendo 116 crianças que estavam em uma escola primária. Famosa por sua frieza, a majestade dos britânicos ficou chocada ao ver os destroços e a tristeza das famílias em luto. Chegou a consolar uma mulher que perdeu sete parentes na tragédia.

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A passagem de poucas horas de Elizabeth por Aberfan reverteu uma crise de imagem que havia estremecido o Palácio de Buckingham. Nos dias anteriores, a rainha havia recebido duras críticas da imprensa e do povo por não manifestar solidariedade às famílias dos mortos na pequena cidade galesa.

Esse fato verídico está retratado em um episódio da terceira temporada de The Crown, uma das joias da coroa da Netflix. Um dos biógrafos de Elizabeth afirma que, entre os raros arrependimentos confessados por ela, está a demora em ir até a comunidade de Aberfan prestar homenagem à memória das vítimas.

A rainha Elizabeth entre os moradores enlutados de Aberfan e a cena retratada em The Crown, com a atriz Olivia Colman no papel da monarca
Foto: Reprodução

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro se tornou alvo de cobranças públicas para se solidarizar com as famílias dos mais de 5.000 brasileiros mortos pela covid-19. Um comentário dele a respeito da letalidade da doença no País — "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre.” — produziu indignação na mídia, nos círculos de poder, entre profissionais de saúde e nas redes sociais.

O exemplo de como a sisuda rainha Elizabeth recuperou popularidade ao enfrentar situação igualmente calamitosa pode servir de inspiração ao presidente. Momentos de tensão são explorados de maneira estratégica por governantes bem-informados sobre marketing pessoal. As câmeras de TV adoram acompanhar um líder que desce do pedestal para consolar seu povo.

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