Quando sai para gravar uma matéria, uma equipe de TV grava muito material (às vezes mais de uma hora) para que no ar sejam exibidos poucos minutos, ou apenas alguns segundos. A edição é a base do telejornalismo. Por isso, boas imagens são perdidas.
O público de casa não tem a chance de ver situações pitorescas de bastidores do dia a dia dos jornalistas, repórteres-cinematográficos e técnicos. Por exemplo: um momento de irreverência de Jair Bolsonaro com um microfone da Globo em mãos.
Em 11 de agosto de 2019, após um passeio nos arredores do Palácio da Alvorada, o presidente parou para conversar com os jornalistas de plantão na entrada da residência oficial.
Para surpresa geral, ele pegou o microfone da Globo e GloboNews – oferecido por um membro da equipe de reportagem – e fez uma brincadeira. “Eu com a Globo? Posso falar tudo? Vai tudo para o ar?”, perguntou, rindo. “Tem certeza? Alô, Globo!”
“Eu queria que a Globo botasse no ar um vídeo com uma canção lá do Nordeste. Chama-se Chuva de Honestidade. É uma canção mais velha do que eu”, disse. “O que o Nordeste sempre precisou foi disso, chuva de honestidade.”
Na verdade, a canção com esse título foi composta em 2013 pelo cantor e compositor pernambucano Flávio Leandro. “Essa música foi feita para o Canal do Sertão, na região do Araripe”, explicou o artista. Bolsonaro deve ter se referido a ‘Vozes da Seca’, canção-protesto gravada pelo rei do baião Luiz Gonzaga em 1953.
Desde o início do mandato, essa foi a única vez que o presidente citou em público a emissora da família Marinho sem criticá-la ou xingá-la. Bolsonaro vê o canal como “inimigo” por conta das frequentes matérias com denúncias contra o governo e sua família. Sob a gestão dele, o canal carioca perdeu 60% da verba publicitária do governo e das estatais.