Quando uma emissora de TV recebe elogios frequentes de políticos, provavelmente não está a praticar jornalismo, e sim assessoria de imprensa. Alguns canais abertos fazem isso: noticiam somente o que agrada aos controladores do poder.
Já quando um canal vira alvo preferencial de líderes político-partidários, pode-se deduzir que cumpre a missão de exibir a verdade dos fatos, doa a quem doer. Parece ser esse o caso da Globo. A mais assistida e odiada rede de TV do Brasil consegue a façanha de desagradar tanto a esquerda quanto a direita.
A emissora carioca une o discurso dos rivais Jair Bolsonaro e Lula contra seu jornalismo crítico. Os dois se dizem perseguidos e injustiçados pela linha editorial do 'Jornal Nacional'. Ambos desafiaram William Bonner para um embate olho no olho na bancada do telejornal. Por enquanto, falam sozinhos. O âncora e editor-chefe do 'JN' ignorou o duelo proposto por ambos.
Sob ataque constante do presidente atual e do ex, a Globo viu crescer a audiência do 'Jornal Nacional' em 2019. Em várias edições, a atração chegou a atrair mais público do que a novela das 21h, tradicional líder no ranking geral do Ibope.
Quanto mais Bolsonaro e Lula metralham o canal da família Marinho, despertam maior interesse do cidadão a sintonizar na emissora para conferir a possível resposta da mais influente empresa de comunicação do País.
Há os que adoram falar mal da Globo nas redes sociais, mas não deixam de consumir sua programação. Nem que seja para ter mais argumento nas críticas. Com isso, o canal ainda marca mais audiência do que os principais concorrentes juntos.
Ao invés de punir a Globo com sua depreciação colérica, Bolsonaro e Lula têm contribuído com a manutenção da folgada liderança da emissora. Produzem publicidade espontânea do inimigo.
O canal que completará 55 anos em abril está longe de oferecer o jornalismo perfeito, se é que ele existe. Contudo, ao expor no ar o que figuras públicas prefeririam manter sob sigilo presta um serviço relevante ao telespectador que também é cidadão-contribuinte e eleitor.