Para o bem e o mal, Bolsonaro foi o personagem do ano na TV

Presidente desafia o jornalismo, constrange repórteres e subverte a relação entre o poder e a mídia

31 dez 2019 - 14h45

Jair Bolsonaro esteve onipresente no telejornalismo em 2019. Sua verborragia irrefreável e as polêmicas de seu governo produziram manchetes diárias. Ele se fez a figura pública com mais visibilidade na TV.

O lado positivo está na disponibilidade de dar a cara a tapa. Raras vezes fugiu da imprensa. Costuma atender aos repórteres todos os dias, na saída do Palácio da Alvorada. Ainda que responda apenas o que quer, e com sua impolidez peculiar, ganha pontos por enfrentar os jornalistas olho no olho. Nunca antes um presidente foi tão acessível no dia a dia. Jamais um mandatário da República se colocou tanto tempo diante de câmeras e microfones.

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O presidente não costuma desperdiçar nenhuma chance de provocar os jornalistas
O presidente não costuma desperdiçar nenhuma chance de provocar os jornalistas
Foto: Marcos Correa / Presidência da República/Divulgação

Essa postura ofensiva de Bolsonaro obrigou os veículos e profissionais a sair da zona de conforto. Tiveram que se preparar melhor para enfrentar a imprevisibilidade e a exacerbação do homem mais poderoso da Nação. O presidente implode o jornalismo burocrático e a cobertura 'chapa branca'.

Ele, sempre discordante, exige a aplicação de um regra básica do jornalismo profissional: a busca do contraditório. Ou seja, ouvir o outro lado, ir além da versão oficial. Isso faz bem à comunicação imparcial e democrática.

A face negativa de Bolsonaro em relação à imprensa está na toxicidade no trato com os repórteres. Gosta de ser polemista, porém, refuta explicar as controvérsias suscitadas por sua gestão e seus filhos igualmente políticos. Indiferente ao decoro do cargo que ocupa, ele às vezes constrange, intimida, desrespeita os jornalistas. Falta razoabilidade, sobra intolerância.

Há ainda a questão do vitimismo exagerado. O presidente se diz perseguido pelo Grupo Globo, classificado por ele como inimigo. Numa atitude revanchista, mandou diminuir a verba publicitária do governo federal à TV Globo,  insinuou a possibilidade de dificultar a renovação da concessão do canal e passou a privilegiar emissoras concorrentes. Atitudes mesquinhas e incongruentes a um chefe de Estado.

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No primeiro ano do mandato, Jair Bolsonaro fez questão de estabelecer uma relação tensa com o jornalismo em geral. Quem ganhou foi o público. Quanto mais exposição midiática, melhor se conhece uma figura pública. Astucioso, o presidente sabe que precisa se autopromover na TV —

plataforma que ainda é mais abrangente do que as redes sociais — para estimular sua militância e tentar melhorar seus índices de aprovação popular.

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