Ao se assumir gay publicamente, casar com o dermatologista Thales Bretas e se tornar pai de dois meninos, Paulo Gustavo — morto em consequência de complicações de covid-19, aos 42 anos — virou um ícone da comunidade gay. Além disso, ele criou e interpretou vários personagens ligados ao universo LGBT+, como a diva dos afeminados ‘Bicha Bichérrima’.
O que poucos sabem é que a militância do ator começou muito antes de conquistar fama, sucesso e respeito no teatro, no cinema e na TV. Em 1999, aos 21 anos, ele aceitou a superexposição de aparecer dando um beijo na boca de outro homem na capa de uma revista.
Para aquele período — bem menos liberal do que hoje — era uma ousadia sem precedentes. O parceiro na foto foi seu namorado na época, chamado Fábio. Com o gesto corajoso, o anônimo Paulo Gustavo deu imensurável contribuição à luta contra a homofobia.
A edição chegou às bancas dentro de um saco plástico preto para evitar boicote de jornaleiros conservadores e possíveis ações judiciais para tirá-la de circulação. A partir daquele ato revolucionário, outros beijos gays surgiram na imprensa, normatizando o gesto de amor entre pessoas do mesmo sexo.
Naquele 1999, o Brasil acompanhava no horário nobre da Globo um personagem gay popular, o esotérico Uálber, interpretado por Diogo Vilella na novela ‘Suave Veneno’, do autor também gay Aguinaldo Silva. Em cena icônica, o rapaz enfrenta o pai homofóbico que o xinga de “bicha”. “Para você, dona bicha”, responde.
A ‘Sui Generis’ se consolidou como uma das primeiras revistas voltadas a gays no País. Trazia matérias de comportamento, cultura, entrevistas com ativistas e, claro, ensaios com belos homens. Entre os famosos que foram capa, os atores André Gonçalves, Gabriel Braga Nunes e Leonardo Brício, o cantor Ney Matogrosso e o lutador Vitor Belfort. A revista durou de 1995 a 2000.