Peça sobre os direitos dos animais promove adoção de cães

Espetáculo criado por Arthur Haroyan analisa a contribuição dos bichos para a evolução das relações humanas

16 jan 2019 - 13h31

Nascido na Armênia, república que fez parte da União Soviética, o multiartista Arthur Haroyan se naturalizou brasileiro. Sua paixão pelo País se deu, entre outros aspectos, pelas novelas brasileiras que acompanhou na juventude.

O ator Mário Goes interpreta o cão que muda a vida da protagonista do espetáculo
O ator Mário Goes interpreta o cão que muda a vida da protagonista do espetáculo
Foto: Leonardo Santos / Divulgação

Aqui, ele experimentou o sabor da fama ao ser entrevistado no Programa do Jô. Por meio do talk show, conheceu um de seus ídolos, a atriz Aracy Balabanian, descendente de armênios.

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Haroyan já fez pequenas participações na teledramaturgia e vários comerciais de TV. Mas seu lugar é nos palcos. Criou a companhia Arca e tem produzido espetáculos autorais.

O mais recente é Benjamin, que estreia nesta quarta-feira, dia 16. A peça discute questões como a falta de leis de defesa dos animais, a precariedade dos abrigos, a eutanásia e, principalmente, a relação afetiva entre cães e humanos.

Ao final de cada sessão de Benjamin, o cão visto em cena poderá ser adotado por alguém da plateia. ONGs de proteção animal participam da ação.

O blog conversou com o ator, dramaturgo e diretor Arthur Haroyan.

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O elenco de Benjamin: a influência de um cão em vidas sob conflito
Foto: Leonardo Santos / Divulgação

Foi seu cachorro, Raffi, que o inspirou a criar o espetáculo?

Sim! A partir da sua chegada, a minha vida mudou completamente. Ele é o meu filho (não gosto de falar dele no tempo passado). Eu tinha que adaptar meus horários de ensaios e gravações para não deixar ele muito tempo sozinho. ‘O cachorro mais elegante do Brooklin’, assim falavam todos os pedestres do bairro, ninguém passava indiferente. Os vizinhos comparavam o caminhar dele com o jeito de desfilar da Gisele Bündchen. Queria escrever algo sobre causa animal por conta das muitas maldades que os humanos causam aos bichos. No meio das minhas pesquisas, Raffi adoeceu de câncer.  Fui obrigado a sacrificá-lo. Ele se foi em menos de um mês. Uma parte de mim se foi junto, para sempre! Aqueles dias foram os piores da minha vida, mais do que ficar sob os escombros do terremoto de 1988, na Armênia, ou servir no exército russo enquanto um sniper turco mirava a minha cabeça. A feri da é recente e dói ainda. Fiz uma tatuagem grande com o rosto dele no meu peito, na altura do coração. Mas quando você acha que está no fundo do poço vem a arte pra te salvar. Aquele mundo de mentirinhas que nós, os artistas, inventamos para depois acreditar cegamente. Isso nos faz sentir vivos!

São raros os espetáculos que abordam os direitos dos animais e a relação deles com os humanos. Qual a mensagem que quer passar ao público?

Leonardo da Vinci falava que o humano vai evoluir só quando parar comer de carne. Não quero criticar aqueles que comem. Cada um é responsável por suas escolhas. Eu também comia, mas parei depois de uma visita a frigoríficos brasileiros. Se alguém me perguntar se há inferno, diria que sim, o inferno está nos frigoríficos. Como fala o próprio Benjamin, interpretado pelo ator Mário Goes, “todos os cachorros do mundo, de rua ou domésticos, têm dois inimigos: os carros e os humanos. Muitos animais morrem atropelados e os outros por indiferença humana”. O Benjamin é uma ilustração do humano ideal, do jeito que devemos ser mas não somos. Ele, como todos os outros peludos, é capaz de fazer a magia acontecer. Consegue tirar do fundo do poço a Berta, interpretada pela atriz que é minha musa, Júlia Marques, quan do ela está à beira do suicídio, após uma tragédia em sua lua de mel e uma descoberta terrível sobre o homem com quem acabou de casar. Mas a ligação de Berta com o vira-lata sofre um revés com a volta do marido, vivido pelo ator Lisandro Leite.

Como vão acontecer as possíveis adoções de cães no espetáculo?

Ao final de cada sessão, um cachorro acolhido por uma ONG, e que esteve em cena naquele dia, será colocado em adoção aos espectadores. Pesquisei bastante para encontrar ONGs confiáveis. A primeira organização que abraçou a ideia foi Humanimal, logo depois se juntaram a nós Adotar é Chique, Amor de Patas, Cães do Morro da Lua e ABEAC. Todas essas ONGs fizeram cartazes com cães resgatados. Vamos deixar esse material no hall do teatro. Temos promoções de ingressos para aqueles que levarem ração ou pertences de uso animal. Doaremos tudo para as nossas ONGs parceiras. Nas apresentações dos dias 17 e 31 de janeiro,14 e 28 de fevereiro, haverá interpretação em Libras para espectadores deficientes auditivos.

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Você fundou sua própria companhia de teatro. Foi uma opção para ter mais liberdade de criação? 

Formei o grupo Arca com amigos que conheci no curso de teatro que fiz para ser autorizado a trabalhar aqui no Brasil. Em 2013, montei minha primeira peça, 1915, sobre o genocídio armênio. Voltou a ficar em cartaz no centenário do genocídio, dois anos depois. Benjamin e a peça anterior, Fora Desse Mundo, foram realizadas por meio de financiamento coletivo. Conseguir patrocínio para fazer teatro é difícil, ainda mais para um artista imigrante. Nos primeiros dez dias da campanha de Benjamin já tínhamos arrecadado mais de 70% da verba necessária. Recebi ajuda de amigos brasileiros, armênios, russos e dos Estados Unidos. Fizemos um pôster gigante com todos os nomes que contribuíram e vamos colocar no hall do teatro.

Arthur Haroyan e Raffi: uma relação de amor que inspira o jovem dramaturgo
Foto: Divulgação

Você tem conseguido seu espaço na cena teatral brasileira. Conhece outros artistas imigrantes nessa batalha artística?

Apesar das dificuldades e das pessoas que dificultam, o Brasil é um País de oportunidades. Encontro muitos atores de outras nações nos testes para comerciais. Publicidade sustenta, mas o teatro alimenta. Um dos meus sonhos é escrever e montar um texto no qual todos os atores serão imigrantes.

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Benjamin, de Arthur Haroyan – @grupoarcabr

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Com Lisandro Leite, Mário Goes e Júlia Marques.

Em cartaz até 28/2 - Quartas e quintas às 21h00.

Viga Espaço Cênico – Rua Capote Valente, 1323, Pinheiros.

Duração: 80 minutos: Classificação indicativa: 14 anos.

Ingresso: 40 reais (Meia entrada: 20 reais).

Promoção: quem doar 1 kg de ração paga meia-entrada; 2 kg garantem entrada franca.

Mais informações: (11) 3801-1843.

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