"O amor é uma transição", diz a jovem Ana (Noémie Schmidt) em certo momento de Pelas Ruas de Paris (Paris est à Nous), da diretora Elisabeth Vogler. Transição de qual lugar para o quê? O que sobra e o que muda após essa metamorfose? O longa francês não oferece respostas prontas, mas é bem-sucedido ao apresentar os questionamentos a fim de suscitar reflexões e, qui sait?, uma possível conclusão.
O roteiro gira em torno da paixão de Ana por Greg (Grégoire Isvarine). Ela quer apenas um romance leve. Já o rapaz não se contenta somente com sentimentos. Quer desperta nela a ambição por uma carreira, o interesse em ganhar muito dinheiro e fazê-la enxergar que a Paris onírica não é o lugar ideal para viverem.
Os beijos são trocados por discussões. A doce Ana se torna cada vez mais insegura, amarga, perdida. E a Cidade-Luz, também conhecida como Cidade dos Amantes, entra em ebulição. A ficção ganha contexto documental com cenas dos protestos de rua em reação a ataques terroristas na capital francesa e flashes das manifestações contra o governo do presidente Emmanuel Macron.
Especialmente nesse trecho se vê uma cinematografia belíssima, com a câmera às vezes posicionada de cabeça para baixo, subversiva como a própria mente da protagonista. A parte final parece uma queda livre entre os traumas e temores de Ana — ou uma 'viagem' à base de alguma droga recreativa.
Pelas Ruas de Paris não foi feito para agradar. Pode frustrar quem busca uma narrativa linear e óbvia. Mas proporciona uma experiência visual interessante ao espectador que embarca na proposta pretensiosa do roteiro e da direção. Além disso, acerta ao mostrar uma Paris real, pulsante, e não aquela idealizada nos posts turísticos no Instagram.